Por Marisa Soares, in Público on-line
Metade dos portugueses que morreram infectados com o vírus VIH/sida nas últimas três décadas era toxicodependente, revela um relatório do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge. Entre 1983 e 2011, morreram 7856 pessoas infectadas com este vírus, das quais 3160 residiam em Lisboa.
O estudo incide sobre a situação da infecção VIH/sida em Portugal a 31 de Dezembro de 2011 e analisa a evolução da doença desde Janeiro de 1983. Neste período de 28 anos, foram notificados 41.035 casos em vários estádios da infecção mas apenas 16.880 foram diagnosticados como sida. Só em 2011, foram diagnosticados 303 casos.
Numa análise por faixa etária, verifica-se que 82,5% dos casos diagnosticados correspondem aos grupos etários entre os 20 e os 49 anos. Do total, 80,9% corresponde ao sexo masculino. Por isso, também são os homens que mais morrem infectados com o vírus: desde 1983, morreram 6595 homens e 1261 mulheres.
Segundo o relatório, o vírus foi diagnosticado em 51 bebés até aos 11 meses, em 32 crianças entre um e quatro anos e em 26 entre os cinco e os nove anos. Nas camadas jovens, entre os 13 e 19 anos, foram diagnosticados 187 casos desde 1983. No ano passado, não foi identificado nenhum caso até à faixa dos 15 aos 19 anos.
Metade dos óbitos (3942) diz respeito a toxicodependentes. Em segundo lugar, estão os heterossexuais com 2298 mortes registadas (29,3%), enquanto que os homossexuais e os bissexuais representam 14,1% dos casos de morte, ou seja, 1106. As infecções oportunistas e a tuberculose são as patologias associadas a um maior número de mortes. A maioria das vítimas mortais residia em Lisboa e no Porto.
O relatório revela ainda que, ao longo dos últimos 28 anos, morreram 94 pessoas que tinham sido alvo de transfusões de sangue e 51 hemofílicos.
A transmissão do vírus de mãe para filho levou à morte de 35 crianças, que representam 0,4% dos casos registados naquele período.
Subida até 1999
Numa análise da distribuição dos casos por ano, conclui-se que o número de pessoas diagnosticadas com o vírus foi subindo até 1999. De um caso registado em 1983, chegou-se aos 572 em 1993 até atingir um máximo de 1170 em 1999. No ano seguinte, a tendência começou a inverter-se: de 1050 casos diagnosticados nesse ano, passou para 473 em 2010 e para 303 em 2011.
A redução do número de casos ao longo dos anos é visível em vários grupos etários. A redução mais acentuada verifica-se na faixa etária dos 25 aos 29 anos, passando de 1739 casos diagnosticados em 1983 para 17 casos em 2011. Já o número de pessoas infectadas entre os 40 e os 44 anos não sofreu uma redução significativa: em 28 anos, passou de 740 para 60, com algumas oscilações durante esse período: em 2000 foram diagnosticadas 121 pessoas, em 2001 o número subiu para 134, em 2002 desceu para 121, em 2003 voltou a subir para 143, descendo em 2004 para 113 casos, em 2005 atingiu os 140. Desde então, continuou a descer até ao ano passado, para menos de metade.
O relatório adianta ainda que só no ano passado foram notificados 1962 casos de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana mas apenas foram diagnosticados 986 casos (apenas 303 foram diagnosticados como sida). Destes, 60% (608) foram registados entre heterossexuais e 26% (258) entre homo ou bissexuais. Foram ainda diagnosticados 95 casos em toxicodependentes, o que corresponde a menos de 10% do total.
Notícia actualizada às 14h25 de 1 de Agosto: esclarece, no último parágrafo, que dos 986 portugueses diagnosticados com a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana, apenas 303 tinham sida.