in Jornal de Notícias
Centro de Acolhimento de Refugiados da Bobadela, em Loures, tem capacidade, no máximo, para meia centena de pessoas, mas dá abrigo a mais do dobro. Conselho Português para os Refugiados considera a situação "muito grave".
António Albarez (nome fictício) chegou a Portugal há algumas semanas na companhia da mulher e dos filhos, depois de ameaçado e de ter sobrevivido a um atentado na Colômbia, levado a cabo por grupos armados paramilitares.
"Pedi refúgio a Portugal porque o meu país não respeita os direitos humanos. Fazia parte de um grupo de sindicatos que defendia o direito ao trabalho. Mas há grupos paramilitares que dizem que nós não somos bons para o país. A Colômbia é o país no Mundo onde se matam mais sindicalistas", contou António, perante o olhar admirado da filha, deitada num colchão colocado no chão de uma sala, que supostamente deveria ser usada para formação.
Temendo pela sua vida e da sua família, o ex sindicalista contactou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que o aconselhou a escolher um país onde pudesse ser recebido. Depois de falar com vários amigos, optou por Portugal.
António é um dos 108 utentes do Centro de Acolhimento de Refugiados (CAR) da Bobadela, em Loures, equipamento com capacidade, no máximo para meia centena de pessoas, mas que dá abrigo a mais do dobro.
Situação "muito grave"
Uma situação considerada "muito grave" pela direção do Conselho Português para os Refugiados (CPR), responsável pelo CAR da Bobadela, que teme a repetição dos "tumultos" de segunda-feira, quando seis refugiados acabaram detidos pela polícia, depois de se fecharem no interior do edifício com os funcionários, após ordenada a sua saída, devido à sobrelotação do espaço.
"É muito difícil estar nestas condições. Passamos por muitas dificuldades. O Centro tem capacidade para 42,45 pessoas e estão aqui mais de cem. É uma situação e um ambiente muito hostil, principalmente para as crianças. Não há condições para tanta gente", refere António.
"Contudo, agradeço a Portugal, aos portugueses e ao CPR por me darem um refúgio e à minha família. Aqui estamos a salvo e têm sido pessoas muito amáveis. Se regressasse ao meu país, creio que não sobreviria dois a três dias", vaticinou.
O Centro de Acolhimento de Refugiados da Bobadela é a única Organização Não Governamental (ONG) existente em Portugal que recebe refugiados e requerentes de asilo.
No CAR da Bobadela estão refugiados de vários Continentes, entre mulheres, homens e crianças, 23 das quais sem acompanhamento, pois perderam os pais, nomeadamente, em guerras.
O Centro de Acolhimento foi construído num terreno cedido pela Câmara Municipal de Loures e tem por objetivo garantir condições de acolhimento e de integração a pessoas que escolheram Portugal como destino seguro, durante um período transitório, até decisão sobre o requerimento de asilo.