in Jornal de Notícias
A tradicional colónia de férias para crianças carenciadas promovida pela Fundação "O Século" não se vai realizar este ano devido a dificuldades financeiras.
Com exceção do período do 25 de Abril de 1974, quando a atividade esteve parada por motivos políticos, esta é a primeira vez que a Fundação não realiza a colónia de férias.
"Este ano não temos colónia de férias. É uma atividade que temos vindo a reduzir por questões de natureza estratégica e de oferta do serviço social que prestamos, mas também pela necessidade que temos de nos reestruturar em função das condições económicas que todas as instituições passam e nós também. Temos de gastar de acordo com as nossas possibilidades", explicou o presidente da instituição, Emanuel Martins.
A Fundação entendeu que "era tempo de repensar as colónias de férias, verificar a sua utilidade e da oferta que devia constituir enquanto tal e, por isso, tem de ser repensada noutro modelo, noutro modelo económico e com outras condições", explicou.
No entanto, o responsável admitiu que na base daquela decisão estão, acima de tudo, as atuais condições económicas. "Não precisaríamos de repensar o modelo se não houvesse outros condicionalismos do ponto de vista económico. Podíamos manter e ir mudando gradualmente", admitiu.
O presidente da Fundação "O Século" explicou que o maior investimento que está a fazer noutras áreas sociais, nomeadamente o acolhimento permanente de crianças em risco, também está a condicionar o modelo tradicional das colónias de férias porque reduziu o espaço físico da fundação.
A fundação chegou a acolher mil crianças entre os seis e os 12 anos de todo o país para a colónia de férias, mas o número foi sendo reduzido e, no ano passado, já só levaram à praia cerca de 200.
"Nos dois últimos anos já mudámos o modelo, já não foi com esta universalidade, as crianças começaram a ser mais de perto e, à noite, não pernoitavam. Eram poucas as que pernoitavam para conseguirmos dar mais resposta", explicou Emanuel Martins.
"São estas as questões que têm de ser equacionadas: Qual é a virtualidade de fazer colónias de férias apenas para virem cá durante o dia ou fazermos menos com outro tipo de resposta? E é aí que o fator económico pesa de forma substantiva. Se em outros tempos não tínhamos esta pressão do fator económico, agora temos e temos que repensar como fazê-lo", acrescentou.
Apesar das dificuldades, o responsável não esconde que vai enfrentar "o desafio" de tentar retomar a colónia de férias em 2013.
Criada em 1927 pelo jornal "O Século", a Colónia Balnear Infantil, como era inicialmente chamada, proporcionou férias de verão a milhares de crianças portuguesas, muitas das quais nunca tinham sequer ido à praia.
Em 1943 a Colónia já tinha proporcionado férias a 31.123 crianças e o financiamento estava a tornar-se difícil, pelo que o seu administrador decidiu criar um financiador empresarial para a obra e pediu autorização para instalar em Lisboa uma feira internacional de amostras: nascia assim a Feira Popular, que passou a financiar as férias das crianças carenciadas.
A Fundação "O Século" foi criada em 1998 para prosseguir e desenvolver a obra social da Colónia Balnear Infantil.
Além da colónia de férias e do acolhimento de crianças em risco, a Fundação tem outras valências como uma creche, um pré-escolar, um ATL e assistência domiciliária a idosos.