Por Graça Barbosa Ribeiro, in Público on-line
Dois ou três dias bastaram para os pais começarem a pedir apoios nas escolas. Esta semana foi de regresso às aulas.
Na maior parte das escolas do país, esta semana serviu para proporcionar um primeiro encontro entre professores e alunos, que só segunda-feira começam as actividades lectivas. Mas dois ou três dias bastaram para os representantes das duas associações de directores detectarem mudanças. "Acabou a pobreza envergonhada, os pais estão num tal grau de desespero que nos procuram e falam abertamente das dificuldades", comenta Filinto Lima, dirigente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP).
Uns aparecem a pedir manuais escolares, outros a perguntar o que têm de fazer para conseguir mais apoio da acção social escolar, mas há também quem esteja preocupado com as refeições. "Não é uma multidão, mas tenho falado com colegas que dizem que está a acontecer em todas as escolas. Se antes tínhamos de estar atentos aos miúdos para detectar carências, esta semana bastou-nos abrir a porta aos pais", diz Filinto Lima que nota que, "se a vergonha acabou", a pobreza, eventualmente, "até aumentou".
Manuel Pereira, da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), confirma a tendência. E diz ter notado, também, que "têm aparecido muito mais pais nas reuniões de início de ano" - "Há mais desemprego e têm mais tempo? Procuram apoio na escola? Só espero que tenhamos força para dar a estes pais e aos alunos o que eles precisam: um espaço de fuga a este clima de depressão e de crise", diz Manuel Pereira, acrescentando, contudo, que teme que isso seja impossível, "dada a situação complicada que se vive nas escolas".
Fala dos professores contratados "que fazem uma hora e meia de carro por dia para ir dar aulas e outro tanto para regressar às suas casas e aos filhos pequenos e que não ganham mais do que tempo de serviço". E junta-lhes os horários zero, "que vivem tempos de incerteza" e aqueles "que têm mais alunos por turma e mais turmas". "Vivemos este ano uma escola triste com actores tristes", resume Rui Martins, professor e dirigente da Confederação Nacional Independente de Associações de Pais (Cnipe). O presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Albino Almeida, diz-se preocupado com as questões sociais e a direcção da Federação Nacional dos Professores divulgou um comunicado sobre este ano horribilis: "Menos 40,5% de docentes contratados em 31 de Agosto e menos 50% contratados na primeira bolsa de recrutamento", indica.
Apesar dos múltiplos problemas relacionados com a colocação de professores, a maior parte não afecta os alunos, por se tratar de duplicações em relação às vagas existentes. Verificam-se atrasos nas ofertas de escola dos estabelecimentos com autonomia e em território educativo de intervenção prioritária, onde o Ministério passou a controlar o processo de selecção.