20.12.12

“Agora chegou a fome”

Por:Ana Palma, in Correio da Manhã

Vítor Hugo, de 18 meses, e a irmã, Maria Fernanda, de oito anos, só conseguiram comer pão e leite durante o dia de ontem. Os outros dois irmãos, José Luís e Marcos Alexandre, de três e quatro anos, que frequentam a pré-primária, comeram na escola.

As quatro crianças, residentes em Albufeira, são filhas de um português e de uma brasileira, ambos desempregados.

Para José Rogério, de 33 anos, e Diana Pereira Verga, de 24, que vieram do Brasil há um ano, a fome é já uma realidade: no frigorífico da habitação há apenas leite, ovos e iogurtes fora do prazo – são apenas consumidos pelo casal, que não arrisca dá-los às crianças.

"Eu trabalhava como DJ, a pôr música em restaurantes, e fazia biscates. A Diana trabalhava como empregada de mesa, mas desde Setembro que estamos desempregados. Aí começou o inferno e agora chegou a fome", revelou ao CM José Rogério.

Até há uma semana, a família contava com o apoio do Núcleo de Albufeira do Centro de Apoio ao Sem Abrigo, onde ia buscar comida, mas isso acabou devido a uma discussão com a directora, depois de a família ter pedido mais apoio, o que foi recusado. A autarquia tem também ajudado com roupa e equipamento, mas não fornece alimentos.

Em desespero, a família pediu ajuda à Segurança Social de Faro, que prometeu enviar um cabaz de alimentos de primeira necessidade, mas ainda não chegou. Para pôr alguma comida na mesa das crianças, a avó paterna, que recebe 250 euros de reforma, optou por não pagar este mês a renda da casa à Câmara. "Vivemos numa casa arrendada, um T1, mas há já três meses que não pagamos a renda, que é de 350 euros/mês. Só não estamos na rua porque a nossa senhoria tem sido muito compreensiva. Também devemos água e luz e já não temos gás", adiantou José Rogério.

LEITORES QUEREM AJUDAR FAMÍLIA DE SAMORA CORREIA

A situação dramática de uma família de Samora Correia, em Benavente, que não consegue alimentar os filhos, de dois anos e cinco meses, levou vários vizinhos a dirigirem-se à casa de Ana Raquel Viveiros para a ajudar. "Já tenho cenouras e hortaliças no frigorífico para fazer sopa para os meus filhos", disse a mulher ao Correio da Manhã. As grandes dificuldades económicas que esta família enfrenta actualmente sensibilizaram muitos dos nossos leitores, à semelhança, aliás, do que tem vindo a acontecer com os recentes casos noticiados pelo nosso jornal. Uma onda de solidariedade levou a que dezenas de pessoas ligassem ontem para a redacção do Correio da Manhã com propostas para ajudar esta família.