por Lusa, publicado por Graciosa Silva, in Diário de Notícias
Os refeitórios das escolas de 1.º ciclo e jardins-de-infância de Sintra vão servir 28.730 almoços gratuitos durante as férias de Natal, naquela que é, por vezes, a única refeição que algumas crianças comem durante o dia.
Até 2 de janeiro, às 12:00, à semelhança do que acontece em dezenas de estabelecimentos escolares de Sintra, abrem as portas do refeitório da Escola Básica n.º2 de Queluz, e três dezenas de crianças que se encontram de férias dirigem-se às mesas onde já estão servidos os pratos de sopa.
A seguir à sopa, vem o prato principal (acompanhado de legumes), a bebida e a sobremesa (sempre fruta) naquela que é a principal refeição que estes alunos com idades entre os cinco e os 10 anos comem ao longo do dia. Apesar da idade, muitos ainda não conseguem utilizar os talheres e todos olham com desconfiança quer para os legumes, quer para a sopa.
Desde há dez anos que a Câmara de Sintra abre as portas dos refeitórios das escolas cuja gestão é municipal, para que as crianças das famílias que passam por mais dificuldades financeiras possam comer gratuitamente uma refeição.
Ao todo, este ano vão ser servidos almoços a 4074 crianças, a maior parte inseridas em programas de Atividades de Tempos Livres (ATL), embora algumas se desloquem às escolas apenas para comer.
"Há cerca de 10 anos que, durante o período da interrupção das atividades letivas, as escolas se mantém abertas, exatamente por se sentir que há alunos que têm como principal e por vezes única refeição aquela que lhes é servida na escola", disse à agência Lusa António Canelas, presidente da EDUCA, empresa municipal que gere estas escolas.
Durante o período de aulas, as escolas de Sintra servem 14.500 refeições diárias, sendo que 5000 são gratuitamente fornecidas a crianças carenciadas. Por ano, o município gasta cerca de 5,5 milhões de euros no fornecimento de refeições escolares.
As escolas de 1.º ciclo e jardins-de-infância dão ainda cerca de 1500 pequenos-almoços por mês e cerca de 5000 lanches diários, mas segundo o presidente da Câmara de Sintra, Fernando Seara, os pais estão a pedir ao município que forneça também os jantares.
O autarca adiantou à Lusa que a câmara está a estudar esta possibilidade solicitada pelos pais num inquérito recente da EDUCA. Uma situação demonstrativa das dificuldades que algumas famílias estão a passar, por falta de emprego ou porque foram obrigadas a encontrar segundos empregos.
A deteção dos casos de maiores necessidades é feita quer pelos professores, quer pelos funcionários dos refeitórios, que encontram alunos que revelam grandes carências alimentares, em que "saltam" a primeira refeição do dia e vão para casa onde raramente comem uma refeição confecionada.
Segundo António Canelas, estes são os rostos da crise, e apesar de haver pais com dívidas acumuladas às escolas devido aos sucessivos atrasos nos pagamentos das refeições, "nenhuma criança fica sem comer" nos refeitórios do concelho de Sintra.
A dietista da EDUCA, que seleciona as ementas dos refeitórios, Raquel Ferreira, disse que a preparação dos almoços tem em conta as carências e necessidades das crianças.
"Temos que ter em atenção que para muitas crianças pode ser a única refeição equilibrada do dia e daí o nosso objetivo de tornar a refeição do almoço a mais saudável e equilibrada possível", disse.