9.12.12

Desemprego. Regresso a casa dos pais pode aumentar violência doméstica

in iOnline

O número de adultos que regressam a casa dos pais devido ao desemprego está a aumentar, afirmam sociólogos ouvidos pela Lusa, que alertam para os consequentes sentimentos de frustração e o perigo de aumento da violência doméstica.

"O desespero já atinge muitas famílias também da classe média", disse à Lusa o sociólogo e investigador do Centro de Estudos Sociais Elísio Estanque, referindo que, em certos casos, isso poderá "estimular a união e a solidariedade" mas noutros, levará a um aumento da violência doméstica e mesmo dos suicídios.

"As implicações psicológicas podem traduzir-se em aumento da violência doméstica, das doenças em geral e das depressões e problemas do foro psiquiátrico em particular. Aumentará seguramente também o suicídio e a criminalidade", disse.

Ainda assim, o apoio das famílias a quem está em dificuldades económicas é, para o sociólogo, essencial para "amortecer" a situação de desespero.

"O agravamento da austeridade no nosso país só não atingiu ainda situações mais dramáticas, com mais casos de desespero ou de violência porque as redes familiares se têm assumido como a força amortecedora no que respeita à situação desprotegida e de pobreza repentina em que muitos casais jovens (e menos jovens) estão a ser colocados", defendeu o também professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

"Acredito que esteja a verificar-se um movimento em cascata em que a perda do emprego (de um ou dois membros do agregado) vai incidir rapidamente sobre os restantes", considerou Elísio Estanque, alertando que "quando os subsídios chegam ao fim, as pessoas entram em desespero e a família perde o equilíbrio".

Para o sociólogo João Teixeira Lopes, a situação pode "tornar-se explosiva".

Embora lembrando que em Portugal a família-providência é uma tradição, João Teixeira Lopes afirmou que isso "está a esgotar-se" porque os recursos são cada vez mais escassos.

"O que acontece é que essa economia de reciprocidade está a ficar cada vez mais enfraquecida com a crise e, apesar de a solidariedade ser ainda um valor muito forte, está a atingir os seus limites. E ao atingir os seus limites vamos assistir a situações de rotura familiar", referiu.

O cenário já se começa a notar sobretudo nos bairros sociais, adiantou João Teixeira Lopes, professor de sociologia da Faculdade de Letras do Porto, que considerou que o problema terá ainda um efeito naqueles que hoje ainda são crianças.

"O regresso a casas que são pequenas, que estão deterioradas, onde os pais julgavam que teriam um final de vida mais descansado, mas que, de repente, veem regressar os filhos com os netos e a casa ficar outra vez cheia, sem condições nenhumas, e em que as suas reformas - que antigamente davam para ir ao café ou fazer uma pequena viagem -- ficam completamente concentradas nas ajudas aos filhos e aos netos, provoca, obviamente, conflitos", disse.

"A longo prazo, isso vai ter um efeito negativo nas crianças, que não vão ter um espaço para si, para estudar com calma e sem ruído e isso terá um efeito muito pernicioso no sucesso escolar e pode também gerar comportamentos violentos", alertou.

Carlos Silva, professor de sociologia no Instituto de Ciências Sociais do Minho, acrescenta ainda outros efeitos provocados por este regresso forçado a casa dos pais.

"Além da sobrecarga dos pais e de outros familiares", a situação leva a "sentimentos de anomia [ausência de leis ou de organização], a frustrações face às expectativas criadas e a uma diminuição da autoestima", disse.