10.12.12

Desigualdades sociais podem potenciar prevalência da diabetes tipo 2

in Sol

A baixa escolaridade, o desemprego, as más condições de habitação ou as dificuldades no acesso a cuidados de saúde podem potenciar a prevalência da diabetes, principalmente a de tipo 2, segundo a especialista em geografia da saúde, Paula Santana.

De acordo com a especialista em geografia da saúde e do planeamento urbano sustentável, a diabetes de tipo 2 “tem vindo a revelar-se como uma patologia associada a grupos socioeconómicos mais desfavorecidos”, com uma prevalência mais elevada em pessoas com baixa escolaridade, em situação de desemprego, que vivem em más condições de habitação ou com mais dificuldades em aceder a cuidados de saúde, ao contrário da diabetes de tipo 1, que é genética.

A “Geografia da Diabetes: as desigualdades sociais e o risco de morte” é o tema do primeiro debate do ciclo de conferências “Diabetes Século XXI”, que começam terça-feira, organizadas pela Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, e em resposta a perguntas da agência Lusa, Paula Santana explicou que as desigualdades sociais são uma vulnerabilidade que têm necessariamente impacto em todas as doenças, incluindo a diabetes.

De acordo com a especialista, não estão ainda totalmente identificados os factores de risco biológicos e comportamentais para a diabetes tipo 2, mas vários estudos apontam para que o excesso de peso e/ou obesidade e a falta de exercício físico tenham um forte contributo.

Sendo assim, a diabetes tipo 2 “tem vindo a revelar-se como uma patologia associada a grupos socioeconómicos mais desfavorecidos, sendo a sua prevalência mais elevada em indivíduos e contextos de privação sociomaterial ou ausência de estilos de vida saudáveis, como a prática de actividade física, ou com dificuldades no acesso aos cuidados de saúde”.

Paula Santana aponta que um acesso diferenciado à educação em diabetes e aos cuidados de saúde primários é uma importante causa de resultados positivos em pessoas com diabetes, ao mesmo tempo que quando não é garantido a todos o acesso a cuidados de saúde adequados, pode estar em causa o perpetuar das desigualdades sociais na diabetes.

De acordo com a especialista, é possível retardar o surgimento da diabetes tipo 2 através da prevenção e apontou que a combinação de perda de peso moderada com o aumento da actividade física pode levar a uma redução de 60% na incidência da diabetes em indivíduos geneticamente vulneráveis ou de alto risco.

“Intervenções que têm uma forte componente de educação para comportamentos e estilos de vida saudáveis podem atenuar o impacto das desigualdades sociais no desenvolvimento da diabetes”, defendeu, salientando que, a educação e a mudança de comportamentos só conseguem ser estimulados em ambientes que criem oportunidades para comportamentos saudáveis.

Na opinião de Paula Santana, o desafio em tempos de crise está em criar programas públicos de prevenção da diabetes, das suas complicações e consequências, desenvolvendo e avaliando formas de perceber os factores que tornam as pessoas mais vulneráveis.

“É este o desafio para os próximos anos: gastar melhor na prevenção para gastar menos no tratamento, já que a tendência crescente é de aumento da incidência”, defendeu.

Lusa/SOL