Por Diogo Pombo, in iOnline
Empresa espanhola inspirou-se na tradição popular e criou um colchão com um cofre no seu interior. Mas só a troco de 875 euros
Um mais um, são dois. Chegar a este resultado é tão fácil como aceitar o convite ao trocadilho feito pela DESS, empresa espanhola que também aproveitou uma conta de somar para chegar ao seu mais recente produto - juntou a frase popular “guardar o dinheiro debaixo do colchão” ao clima de receio gerado pela taxa aplicada aos depósitos bancários no Chipre. O resultado foi um colchão com um cofre electrónico no interior e que “não baila ao som dos mercados”.
“Tenho um aspecto estúpido?”, é a questão que Francisco Santos, presidente da empresa, coloca num dos vídeos que publicitam o colchão. Nele surge como líder de uma fictícia La Caja de Ahorros Mi Colchón (Caixa de Poupança Meu Colchão, em tradução livre), a brincar com as iniciais TAE - a Taxa Anual Efectiva, negociada entre o banco e o cliente quando uma instituição concede um empréstimo. O objectivo é frisar que a Mi Colchón “não sabe o que é a TAE nem se importa com isso”. A solução que oferece não dá cartões de crédito ou cheques aos clientes, pois “só se preocupa se descansam bem e com o seu dinheiro muito próximo de si”. A publicidade ao produto vai à boleia desta abordagem: realçar as suas vantagens face aos tradicionais depósitos bancários.
Tudo porque, no interior do colchão, foi inserida uma “caixa forte”, com um sistema de código electrónico, feito à base de metal, com dez centímetros de altura por 15 de largura. Em Espanha, os primeiros 20 colchões foram vendidos em menos de 24 horas, todos por um preço a rondar os 875 euros. Para João Lázaro, a empresa não podia ter escolhido melhor altura. “É claramente um negócio de oportunidade”, sublinha ao i dirigente da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV).
E basta recordar o caso de Chipre para explicar porquê. A 25 de Março, o país revelou que os depósitos bancários acima de 100 mil euros seriam taxados. Uma contrapartida do resgate financeiro ao país, avaliado em 10 mil milhões de euros. O pacote abandonou a proposta inicial - de taxar igualmente os depósitos com montantes inferiores - mas não apagou o receio de a medida alastrar a mais países com planos de resgate, como a Grécia, Portugal e Irlanda, onde 98,8% dos 16,4 milhões de depósitos existentes têm montantes inferiores a 100 mil euros, segundo o Fundo de Garantia de Depósitos. “As taxas aos depósitos em Chipre lançaram algum alarme social, um clima de desconfiança no sistema bancário”, lembrou o dirigente da APAV, antes de argumentar que, em termos de marketing, “é uma óptima ideia”.
Aos olhos de Francisco Santos, o colchão tem tanto de criativo como de louco. “Não vou negar que a ideia tem um ponto de loucura, mas acreditamos que com este colchão as pessoas vão descansar melhor”, revelou o presidente da empresa sediada em Salamanca. A originalidade da ideia é reconhecida, mas quando se trata de inserir cofres em casa para esconder e guardar dinheiro, João Lázaro enalteceu que “o local que a pessoa acha ser melhor pode também ser antecipado pelo ladrão”. Afinal de contas, “não se pode esquecer que a vida do ladrão é descobrir os locais onde estão escondidos os valores”, resume o responsável da APAV. Com tanta publicidade, o colchão corre o risco de passar a ser o primeiro local a ser alvo de busca.