Maria Cláudia Monteiro, in Jornal de Notícias
Dois sem-abrigo foram agredidos, enquanto dormiam, por quatro indivíduos, na Praça da República, no Porto. O caso, que chocou comerciantes e moradores, será um ajuste de contas entre os dois grupos, segundo a PSP.
"Estávamos a dormir debaixo do prédio e fomos atacadas por quatro indivíduos que nos bateram com paus e garrafas", explicou Tolib Akhmedov, uzbeque de 37 anos e a viver há 11, em Portugal e um dos sem-abrigo que ficou bastante maltratado. Foi assistido pelo INEM no local e, depois, transportado ao hospital, onde foi suturado nos lábios, no sobrolho e na cabeça.
"Não percebemos por que nos atacaram, nós estávamos a descansar", contou a outra vítima, Ludgero Garcia, 32 anos, de Castelo de Paiva, explicando conhecer os agressores "apenas de vista".
Segundo fonte da PSP, o caso estará relacionado com um outro incidente, ocorrido, no final do mês de junho, também na Praça da República, na sequência do qual uma funcionária do Pingo Doce ficou ferida. A agressão aos dois sem-abrigo poderá ser um ajuste de contas.
"Foi desumano...Parecia que a intenção deles era matar os sem-abrigo", recordou um comerciante da Praça da República, que não quis ser identificado. "A violência foi tal que as pessoas tiveram medo de intervir. Só conseguimos chamar a polícia, que só apareceu depois de várias chamadas".
Os agressores estavam armados com barrotes de madeira com pregos e foram ao vidrão buscar garrafas para atirar aos sem-abrigo, contou outra testemunha ao JN.
Clima de insegurança
Os comerciantes e moradores da Praça da República estão preocupados com a insegurança e lamentam a falta de intervenção das autoridades. As duas vítimas, que durante o dia costumam arrumar carros naquela praça, "são educados e não há quem tenha razões de queixa deles", assegura um morador.
As opiniões dividem-se e há quem defenda que os sem-abrigo não deveriam ali dormir.
Talib, do Uzbequistão, trabalhou 11 anos na construção civil, em Portugal. Ficou sem emprego, o desconhecimento da língua e das burocracias fizeram dele um sem abrigo.
Ludgero é português e trabalhava na restauração. Desempregado e sem dinheiro, não volta para a família por vergonha. "Só volto quando tiver emprego outra vez".