2.7.13

Sobrevivência de novas empresas é das mais baixas

por Ilídia Pinto, in Diário de Notícias

Os portugueses são dos que têm menos medo de falhar, empurrados, nomeadamente, pelo desemprego. Mas a taxa de mortalidade das empresas recém-criadas é das mais elevadas na União Europeia, atingindo os 70% a cinco anos. A falta de financiamento é uma das explicações

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Os portugueses são dos que têm menos medo de falhar, empurrados, nomeadamente, pelo desemprego. Mas a taxa de mortalidade das empresas recém-criadas é das mais elevadas na União Europeia, atingindo os 70% a cinco anos. A falta de financiamento é uma das explicações

Portugal tem uma das menores taxas de sobrevivência das empresas mais jovens - só três em cada dez sociedades criadas em 2004 estavam a funcionar cinco anos depois, o que indicia "debilidades competitivas". E a dinâmica de criação e encerramentos revela uma "maior turbulência empresarial" face ao padrão europeu. A conclusão é do estudo "25 anos de Portugal europeu", realizado pela consultora Augusto Mateus & Associados para a Fundação Francisco Manuel dos Santos. Portugal só é ultrapassado pela Letónia.

Para o diretor-geral da Associação Industrial Portuguesa (AIP), esta turbulência é "um sinal de vitalidade e de renovação empresarial. Não devemos ter a veleidade de achar que todas as empresas sobrevivem", defende Nelson de Souza. Essa é uma "visão idealista, sem adesão à realidade". Mas a taxa de "mortalidade infantil" das empresas, embora não sendo um exclusivo nosso, "é maior do que seria desejável" e, por isso, "motivo de preocupação".

António Marques, presidente da Associação Industrial do Minho, considera que a grande questão é que "não há um ambiente de verdadeira valorização empresarial em Portugal. E todo o contexto de criação de empresas "é tão complicado", ao nível burocrático e custos associados, que "derrota as mais jovens".

A falta de financiamento é outra das explicações. O estudo mostra mesmo que, em 2009, o capital de risco disponível para empresas recém-criadas excedia em quatro vezes o capital de crescimento destinado à expansão das já existentes. A insuficiência de capital é uma "fraqueza" do tecido empresarial português, já que, normalmente, as empresas nascem com dinheiro emprestado por amigos ou familiares. Mais capital de risco e business angels são fundamentais, crê o responsável da AIP, para ajudar a evitar a tendência das empresas de viverem "excessivamente dependentes" de financiamentos externos.

E quanto a empreendedorismo? Somos mais ou menos aventureiros do que os nossos parceiros europeus? O trabalho da Augusto Mateus & Associados mostra que os portugueses são dos que "menos medo têm de falhar" e que a intenção de criar o próprio negócio quadruplicou na última década. Mas este espírito empresarial não se tem repercutido no ritmo de abertura de novos negócios por conta própria, nos quais somos ultrapassados por Grécia, Irlanda e Espanha. Países que, como nós, "partilham um elevado empreendedorismo por necessidade", ou seja, enquanto forma de fugir ao desemprego.

António Marques discorda e considera que, na verdade, "não gostamos de arriscar", porque não somos "formados nem formatados" para isso. O Eurobarómetro da Comissão Europeia revela que os portugueses são os europeus que "em maior percentagem" gostariam de ser patrões de si mesmos. Mas são também dos que mais consideraram inviável que tal ocorresse num horizonte temporal previsível. Porquê? "Não tanto por acharem que lhes faltam competências para tal, mas por ausência de uma ideia de negócio ou oportunidade, por falta de financiamento, pela complexidade dos procedimentos, por falta de informação e, acima de tudo, por medo de falharem, ou seja, por aversão ao risco", diz o presidente da CIP. Nelson de Souza lembra que "nem sempre as ideias, a visão e a capacidade de gestão" se concentram numa mesma pessoa, daí a importância das soluções de apoio.

Curioso é que as mulheres portuguesas arriscam mais do que os homens. Ocupam o 5.º lugar ao nível da iniciativa empresarial na UE, atrás de gregas, húngaras, espanholas e italianas, enquanto os homens estão em oitavo. Para António Marques, da AIMinho, a diferença não é significativa e prende-se com as características pessoais das mulheres: "São mais resistentes e persistentes", diz.

O estudo mostra ainda que se assiste a uma "concentração crescente" nas empresas mais antigas: Em 2009, 72% dos postos de trabalho eram assegurados por empresas com mais de dez anos (eram 59% em 1994).

Para o presidente da CIP, estes números espelham a evolução da economia. Em 1994, "tínhamos beneficiado de um longo período de crescimento saudável, propício ao surgimento de novas empresas", enquanto em 2009 Portugal estava "no final de uma década de significativa divergência face à UE, com baixo crescimento e perda de competitividade". Circunstâncias "prejudiciais" ao crescimento de novas empresas, mas que também penalizaram o emprego, "dada a importância das empresas mais jovens na criação de novos postos de trabalho". Um estudo da Dun & Bradstreet revela que "46% do emprego criado em Portugal em cada ano tem origem em empresas com cinco ou menos anos".

Nelson de Souza admite que esta questão é "motivo de preocupação", na medida em que "as empresas jovens asseguram um emprego de maior futuro".