Por Liliana Valente, in iOnline
Rui Rio emocionou-se na despedida. António Costa elogiou coligação com PS: partidos não se afirmam "na mesquinhez dos aparelhos"
Rui Moreira tomou ontem posse como presidente da Câmara do Porto substituindo Rui Rio. Mas o legado de 12 anos do social-democrata vai ter continuidade nas políticas do novo presidente, que formou governo com o PS. Moreira quer um Porto "livre", mas não "portocêntrico", que una as cidades do Norte, mas que não quer ser "capital senão de si mesmo". O presidente independente promete contas rigorosas e, também por isso, quer mais poder e mais dinheiro para as câmaras.
No discurso da tomada de posse ontem, Moreira começou por deixar uma palavra de "gratidão" a Rui Rio, garantindo ao presidente cessante que vai manter "a linha de rumo" de "afronta a interesses" e de "exigência, rigor e transparência" das contas da câmara. Palavras que Rio ouviu, emocionado, na despedida de doze anos à frente da câmara. Rio nunca expressou directamente o apoio ao presidente eleito, mas ontem não escondeu a satisfação e os sorrisos ao ouvir as palavras de Moreira.
É que mais do que um discurso local, Moreira falou para fora e muitas vezes para o governo. O homem que foi eleito por uma lista de independentes, mas apoiado pelo CDS, quer mais poder para as câmaras que se deve traduzir em mais competências e em mais dinheiro. O presidente da Câmara do Porto quer aproveitar que se discute o próximo quadro de fundos europeus para reforçar o papel das câmaras: "É também necessário que essas vozes [do governo] nos esclareçam, sem inúteis ambiguidades, se estão disponíveis para transferir novas competências para as autarquias, para que estas possam valorizar os seus recursos". Mas deixa um recado: "Em tempos perturbados" em que se fala na necessidade de as câmaras contribuírem para a competitividade, Moreira lembra que "as que são bem geridas" não podem ver os seus "recursos capturados" para ajudar as que não o foram.
A ideia responde à criação do fundo de solidariedade municipal, que entretanto foi alterado pelo governo, em que eram sobretudo as câmaras a contribuir para o resgate de outras autarquias.
Nas palavras de Rui Moreira lê-se uma vontade de liderar, e para essa ideia contribuiu o desafio que lançou de as cidades do Norte criarem uma "liga", além de pedir um reforço dos poderes da Junta Metropolitana do Porto. Mas se nos actos quer assumir a dianteira, nas palavras preferiu passar a ideia de que esta intenção é mais modesta: "O Porto, o Porto livre, pode, e mais do que pode, deve, assumir um papel agregador, deixando claro que não tem a pretensão do domínio, e que não aspira senão a ser capital de si mesmo".
Mas para o ser, Rui Moreira traçou três objectivos para o seu executivo em coligação com o PS: coesão social, economia e cultura. Quer, "uma cidade livre", porque "a coesão faz-nos mais livres, a cultura faz de nós uma cidade de liberdade e o crescimento económico liberta a sociedade". Para isso, além do seu programa, vai integrar ideias do Partido Socialista, com quem assinou um acordo, a contragosto da distrital do PS. Rui Moreira não esqueceu uma palavra de incentivo a Manuel Pizarro, eleito vereador e que vai ver-lhe atribuídas competências, depois de este ter sido criticado pela estrutura partidária do PS/Porto.
O apoio à decisão de Pizarro foi também dado por António Costa. O presidente da Câmara de Lisboa, que assistiu à tomada de posse, elogiou o novo executivo do Porto e, ao passo que dizia não querer imiscuir-se nas questões do PS/Porto, lembrou que "os partidos não se afirmam na mesquinhez e na mediocridade do aparelho mas na forma como sabem assumir responsavelmente o seu papel na sociedade portuguesa".