12.11.13

Os dias de hoje não aguentam novas descolonizações

Por Eduardo Oliveira Silva, in iOnline

Importa que todos trabalhem para evitar o que seria uma enorme calamidade
Nunca foi fácil ser português. O posicionamento geográfico condicionou- -nos. Somos a cauda do Norte e o topo do Sul. Somos uma placa giratória que distribui filhos para muitos destinos.

E isso dá-nos força. Dá-nos exposição. Dá-nos características únicas, mas também traz problemas e situações que podem gerar dramas repentinos e anular o que pareciam soluções.

Simplificando: partem os melhores, os mais arrojados, os mais preparados ou necessitados. Sempre assim foi e sempre assim será. Mas hoje é preciso ter noção de que há um efeito boomerang potencialmente rápido em função da instabilidade que se verificar nos pontos de migração.

Se houver convulsões em certos destinos de emigração actual, Portugal não terá qualquer hipótese de albergar de volta os milhares de nacionais que têm saído do país, alguns dos quais munidos de habilitações como nunca ninguém teve por cá. São filhos de um sistema de educação único, que resultou de esforços públicos e privados que o Estado enquadrou e que lhes ofereceu um escape para a pobreza.

No entanto, é um facto que há hoje o risco de regressos em massa e Portugal no seu todo deve contribuir para minorar essa calamidade.

Mais do que para países tranquilos de Gaiolas Douradas, como a França, a Bélgica, a Suíça, a Alemanha, a Grã-Bretanha e os estados da Escandinávia, os portugueses de hoje partem sobretudo para sítios mais complicados e improváveis.

Angola é o mais apetecível e mais estável dentro de um quadro de mútuo conhecimento ancestral e linguístico, mas o problema que a justiça arranjou por incúria é uma ameaça. Moçambique enfrenta problemas graves que resultam exactamente do seu surto de desenvolvimento e da criação de grandes desigualdades. A África do Sul é um barril de pólvora. A Guiné idem, mas temos lá poucos nacionais. Timor não é propriamente uma meia ilha de paz adquirida. A Líbia da reconstrução-relâmpago é o que se sabe. Os emirados estão bem e em desenvolvimento, mas têm especificidades complexas susceptíveis de rebentar. A Venezuela é um problema sempre latente. Destinos como a Colômbia e o Peru ameaçam gerar dificuldades. O Brasil é uma incógnita permanente, enquanto a China vive uma falsa calma.

Há, por outro lado, que juntar aos emigrantes directos os milhares ou milhões que têm direito à nossa nacionalidade, muitos dos quais a ostentam com orgulho ao fim de várias gerações.

Em face destas realidades, há que dizer que, se temos de partir, se temos de procurar novos destinos, devemos adaptar a nossa política externa a realidades objectivas, protegendo os nossos compatriotas e percebendo certas contingências.

Há cerca de 3 milhões de pessoas que podem reclamar a nacionalidade portuguesa que vivem em zonas com algum grau de complexidade. É portanto óbvio que temos de agir também em função dos interesses deles, até porque os tempos não estão para descolonizações, nem há um país para reinventar como após 75. Temos de ter isso em conta. É uma responsabilidade

que nos confere a nacionalidade.