1.4.14

Alterações climáticas aumentam risco de conflitos por falta de alimentos e água

in Jornal de Notícias

As alterações climáticas estão a afetar a disponibilidade de alimentos e água em diversas zonas do planeta, segundo a ONU, que alerta para um aumento dos fluxos migratórios e um maior risco de conflitos entre as populações.

O novo documento elaborado pelo II Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas (PIMC), em cuja redação participaram 500 peritos internacionais e responsáveis políticos de 70 países, é o mais extenso e contundente até à data sobre alterações climáticas, ao analisar os seus efeitos sobre o Homem e sobre a natureza em todas as regiões do planeta desde a atualidade até ao ano 2100.

Numa conferência de imprensa, o secretário da Organização Mundial de Meteorologia (OMM), Michel Jarraud, afirmou que "já não há qualquer dúvida de que o clima está a mudar" em todo o planeta e que "95% desta alteração deve-se à atividade humana".

O documento reúne "120 impactos em seis continentes, com atribuição total ou parcial às alterações climáticas", entre os quais quebra de rendimento dos cultivos em diversas partes do mundo, "eventos climáticos extremos" como ondas de calor, tufões, chuvas torrenciais, inundações, secas e mudanças nos padrões migratórios de diversas espécies animais.

A diminuição do rendimento agrícola "observa-se em regiões como o sul da Europa ou a América do Sul", e principalmente em cultivos de milho ou trigo, disse o responsável numa entrevista à agência Efe.

No entanto, as maiores consequências sobre a segurança alimentar serão observadas em zonas como África ou o sudeste asiático, onde a "maioria da população rural pratica uma economia de subsistência".

"Isto afetará centenas de milhões de pessoas, se não fizermos nada. O mundo deve levar este relatório muito a sério", alertou o presidente do PIMC, Rajendra Pachauri.

A privação alimentar e os eventos climáticos extremos "provocarão com toda a segurança um aumento dos fluxos migratórios e dos conflitos entre populações e terão implicações na integridade territorial, sobretudo nas zonas menos desenvolvidas", sublinhou o especialista.

"Para onde irão as pessoas quando virem que não têm o básico para viver? Isso já se está a verificar e vai intensificar-se com as mudanças climáticas", advertiu, destacando a necessidade de atenuar estes fenómenos através de "medidas urgentes" e, em particular, de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa".

O trabalho, cujas conclusões finais serão apresentadas em outubro em Berlim, recebeu o apoio de diversas organizações não-governamentais.

"O relatório é claro: o impacto das alterações climáticas sobre a alimentação é pior do que tinha sido estimado", afirmou o especialista da Oxfam International Tim Gore, que apelou para a "ação urgente" dos governos.

A organização ambientalista internacional Greenpeace instou os líderes políticos a "acelerar a transição para energias limpas e seguras" para evitar "ameaças maiores sobre a segurança humana" e para "proteger bosques, oceanos e espécies naturais de importância vital".

Por último, a organização ambientalista World Wildlife Fund advertiu que apesar de o estudo referir "os custos económicos" das mudanças climáticas, as verdadeiras consequências deste processo sobre a vida humana ou sobre a natureza "não podem ser medidas em termos económicos".