1.4.14

Deflação ameaça zona euro. Inflação caiu para um mínimo de 0,5%

Por Margarida Bon de Sousa, in iOnline

BCE reúne quinta. Para já, Mario Draghi quer esperar ainda mais um mês, mas a taxa de juro directora pode ficar abaixo dos 0,25%

A taxa anual de inflação na zona euro deverá ter caído para 0,5% em Março, contra os 0,7% verificados em Fevereiro, de acordo com os últimos dados publicados ontem pelo Eurostat. A estimativa dá conta de uma nova contracção, de 0,2 décimas percentuais, e coloca este indicador em mínimos históricos, o que está a deixar preocupados os governos e o Banco Central Europeu, a dois dias de uma nova reunião em Frankfurt em que poderão ser adoptadas medidas para combater uma eventual deflação.

Segundo o Eurostat, o sector dos serviços foi o único com uma taxa anual ligeiramente superior a 1%, 1,1%, mas mesmo assim inferior duas décimas à taxa registada em Fevereiro. A comida, o álcool e o tabaco registaram uma quebra para 1%, comparada com 1,5%, os bens industriais não energéticos de 0,3%, contra os 0,4% de Fevereiro.

Mas a causa principal de a inflação ter caído para 0,5% em Março tem sobretudo a ver com uma redução do preço da energia de 2,1%, devido à queda do preço do petróleo nos mercados internacionais, acompanhada de uma quebra no consumo.

O Banco Central Europeu, que reúne quinta-feira, já anunciou que tomará medidas mais drásticas se a inflação continuar a cair. Mario Draghi quer evitar a todo o custo que a zona euro entre em deflação, um fenómeno que tecnicamente corresponde a um período continuado de queda nos preços a que está associada uma recessão mais profunda. A acontecer um fenómeno deste tipo, idêntico ao do Japão, os países periféricos teriam ainda mais dificuldade em corrigir as suas contas públicas e diminuir a dívida.

Entre as propostas já estudadas pelo BCE está um novo corte na taxa de juro, que se mantém inalterada nos 0,25% desde Novembro, a compra de activos, a imposição de taxas negativas nos depósitos bancários ou inclusive um aumento da liquidez a longo prazo.

Mesmo assim, inúmeros analistas consideram que o BCE vai aguardar mais um mês antes de avançar com medidas mais enérgicas para combater a contracção dos preços.

Recorde-se que o vice-presidente da Comissão e responsável pelos Assuntos Económicos, Olli Rehn, já tinha alertado para o perigo de a inflação se manter demasiado baixa na zona euro quando foram conhecidos os resultados de Janeiro.

Nessa altura, o alto responsável da Comissão considerou que os 0,7% estavam longe dos objectivos da política monetária do Banco Central Europeu, que aponta para um valor de 2%.

Rehn disse então não recear uma deflação na zona euro, por confiar na capacidade do BCE de adoptar medidas que estimulem o aumento dos preços e do consumo. Mas realçou que uma inflação baixa dificultará e atrasará todo o processo de reequilíbrio da economia europeia, o que não será bom nem para o crescimento nem para o emprego. Para o comissário, o problema não está tanto nos países do Sul, onde as medidas de ajustamento e a luta pelo aumento da competitividade pressionaram em baixa este indicador, mas nos países do Centro da Europa, que também estão com uma inflação demasiado baixa.