2.4.14

Educação. Computador na escola não ajuda alunos a resolver problemas

Por Marta Cerqueira, in iOnline

Relatório avalia pela primeira vez situações aplicadas ao dia-a-dia. Portugueses são fortes a executar e fracos no pensamento abstracto

Ter um computador em casa é quase universal entre estudantes. Portugal não é excepção, tendo em conta que 96% dos adolescentes têm pelo menos um em casa, condição quase determinante para os alunos conseguirem ultrapassar os obstáculos do dia-a-dia. O mesmo não acontece quando o computador é só usado na escola, concluiu o relatório "Resolução Criativa de Problemas" do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), divulgado ontem. Num grupo restrito de países, no qual Portugal está incluído, os estudantes que não o usam na sala de aula têm melhor desempenho na resolução de problemas do que os que costumam utilizá-lo na escola. Estes resultados surgem depois de uma grande aposta dos últimos governos, principalmente durante o executivo de Sócrates, de equipar as escolas com tablets, computadores e ligações de banda larga.

A percentagem de alunos portugueses que usa equipamentos electrónicos na escola (69,4%) fica pouco abaixo da média da OCDE (72%). Apesar de os dados recolhidos não criarem um padrão comum na maioria dos países, em Israel, Uruguai, Singapura, Dinamarca, Estónia e Portugal, o uso de computadores na escola está inversamente relacionado com a resolução de problemas por parte dos estudantes.

Os resultados do PISA 2012, divulgados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), apresentam um ranking com a média dos resultados obtidos pelos 85 mil alunos de 15 anos que participaram neste estudo. No total, Portugal obteve uma pontuação de 494 pontos, sendo a média da OCDE de 500 pontos. Os estudantes portugueses surgem em 20.º lugar numa lista de 44 países do PISA, que avaliou, pela primeira vez, a capacidade de os alunos conseguirem resolver problemas de matemática aplicados à vida real. "A crise económica aumentou a urgência de investir na aquisição e desenvolvimento das ferramentas para os cidadãos, através do sistema de educação e no local de trabalho", pode ler-se no documento.

Comprar bilhetes de metro, mexer num MP3 ou num ar condicionado sem instruções ou ainda escolher a melhor combinação de rotas num mapa para chegar de um ponto a outro da cidade foram alguns dos testes apresentados aos alunos. Os resultados mostram que os jovens portugueses têm facilidade em utilizar o seu conhecimento para planear e executar soluções. O relatório refere que em países como Portugal e Eslovénia os alunos são melhores a usar o seu conhecimento para "planear e executar" uma solução do que a adquirir esse conhecimento, a questioná-lo, a gerar ou a experimentar alternativas. Todas essas fases da acção foram testadas com problemas que simulavam situações do dia-a-dia.

Entre os países da OCDE, 11,4% dos estudantes de 15 anos conseguiram resolver com sucesso os problemas apresentados. Além disso, um em cada cinco alunos foi capaz de resolver os problemas simples, desde que relacionados com situações familiares.

Fazendo uma avaliação geral, os estudantes que apresentaram melhores resultados foram asiáticos: Singapura, Coreia do Sul, Japão, Macau e Hong Kong, por esta ordem, dominam o ranking. Na outra ponta da tabela surgem o Uruguai com 403 pontos, a Bulgária com 402 e no final da tabela a Colômbia com 399 pontos.