4.4.14

Manuela Ferreira Leite. "Não podemos ser condicionados pelo medo"

Por Solange Sousa Mendes, in iOnline

A ex-ministra alerta para a falta de democracia que está a acontecer na Europa

Manuela Ferreira Leite chamou a atenção para a falta de democracia que assola a Europa. Na sua opinião, as políticas que têm vindo a ser adoptadas na Europa são anti-democráticas e conduzem ao medo.

A ex-ministra das Finanças falava no seu comentário semanal à TVI24, onde atacou essencialmente os países em maior desenvolvimento, que não estão a dar o apoio devido aos que estão a sofrer dificuldades.

"As pessoas não têm participado na construção europeia e isso é muito contra o que é o ideário europeu", afirmou Ferreira Leite, com preocupação.

"Considero que muitos dos problemas da construção europeia tem sido por causa de decisões supranacionais e o resultado está à vista. O facto de serem outros países a interferir nas políticas dos países em dificuldade pode levar, por exemplo a manifestações", afirmou. Por isso, a comentadora afirma que "é melhor estarem todos calados porque nós é que sabemos como é. Isso pode conduzir a reacções muito piores que um manifesto. É o caso de rebeliões, movimentos separatistas, Ideologias de extrema direita, como acontece em França e isso é muito penalizador para a democracia", alertou.

Manuela Ferreira Leite sublinhou inclusive que "os países em desenvolvimento deveriam, sim, ajudar. "A Alemanha tem superavits superiores ao que foi tratado pela Europa. E isso não era suposto, mas ninguém controlou essa questão. A Alemanha deveria, sim, ajudar os que estão em pior situação".

"Não podemos ser condicionados pelo medo", finalizou a comentadora, alerando para o perigo das políticas actuais.

Sobre o facto do manifesto para a reestruturação da dívida se ter tornado petição pública, Ferreira Leite diz que é sinal que teve eco na sociedade civil.

Já no que diz respeito à critica que Durão Barroso lhe fez por ter assinado o documento, a ex-ministra disse que o comentário do presidente da Comissão Europeia foi muito "infeliz", porque ele não sabe conceber política sem ser com base em interesses pessoais.

Recorde-se que Durão Barroso afirmou que Ferreira Leite só assinou o manifesto, porque seria uma das pessoas que sofreria maiores cortes.

A comentadora acrescentou ainda que Durão Barroso sabe muito bem qual a razão do manifesto, já que é baseado num problema fulcral.

Manuela Ferreira Leite terminou o comentário colocando uma questão no ar: "por que razão é que no próximo ano temos de ter déficit inferior a 2,5%? Quantos países chegaram a esse número? Número mítico, aliás". Os objectivos deveriam ser ajustados à realidade. Mas a nossa realidade não se ajusta a 2,5%, por isso pergunto porquê estes cortes todos?"