4.4.14

Oito em cada dez professores sentem quea indisciplina aumentou

Por Kátia Catulo, in iOnline

Inquérito da Universidade do Minho revela que 23% perde mais de 10% da aula a resolver casos de indisciplina. Docentes não têm formação

Os professores do ensino básico sentem que a indisciplina na sala está a aumentar, havendo situações em que perdem metade da aula a resolver estes problemas. A conclusão surge num inquérito nacional da Universidade do Minho, que alerta para a falta de formação nesta área. Em apenas dois meses, cerca de 1500 docentes do 1.º ao 9.º ano responderam aos questionários sobre "Indisciplina em sala de aula no ensino básico".

Mais de oito em cada dez inquiridos (84%) consideram que a indisciplina aumentou nos últimos cinco anos. Apenas 2,5% entende que a situação está melhor e 11% acha que a situação se mantém inalterada. "O estudo ainda não terminou, até porque ainda se pode responder aos inquéritos, mas já é possível perceber tendências sobre a percepção que os professores têm sobre indisciplina", contou à Lusa João Lopes, investigador do Instituto de Educação e Psicologia da universidade e responsável pelo trabalho.

Os problemas apontados "não são os mais graves", ressalva o especialista, dando como exemplos o uso de aparelhos electrónicos durante a aula, falar com o colega do lado, sair do lugar e comer dentro da sala, ter uma atitude passiva e estar desatento. As atitudes são perturbadoras e obrigam a interromper a aula com frequência. Um em cada quatro docentes (23%) perde 10% do tempo com problemas de indisciplina; outros 314 professores gastam entre 20% a 30% da aula e 6% fica com menos de metade do tempo para dar matéria. Sete professores admitiram mesmo que perdem entre 80% a 90% com o mau comportamento dos alunos. "Cerca de 12% dos professores perdem mais de 40% do tempo com este problema", alerta o professor da Universidade do Minho, avisando para o facto de 60% dos docentes não terem tido, até hoje, formação específica para lidar com este problema.

Para os inquiridos, a culpa da indisciplina dentro da sala de aula é, essencialmente, dos pais (39%), das políticas educativas (37%) e dos alunos (34%). Com menos responsabilidade surgem os próprios professores. No entanto, ressalva João Lopes, "os professores não se desresponsabilizam completamente" e 3% considerou mesmo que estes são os principais culpados pela situação dentro da sala.

Além da recolha de dados demográficos e sobre os problemas mais registados na sala de aula, o estudo inclui também questionários para aferir a percepção que o professor tem sobre a sua capacidade de lidar com os problemas, assim como a capacidade dos seus colegas e da própria escola. O estudo questionou ainda os docentes sobre a frequência com que reportam os problemas a terceiros e as consequências das situações reportadas: "Sabemos que os casos reportados são muito menos do que os que ocorrem na sala de aula e os punidos ainda são menos." O estudo deverá em breve ser alargado ao ensino secundário e até ao ensino superior, onde acredita que se registem também cada vez mais casos de indisciplina. Com Lusa