3.4.14

Seguro quer acabar com os sem-abrigo em quatro anos

Por Luís Claro, in iOnline

PS garante que vai "criar condições" para que ninguém tenha de viver na rua. PSD diz que a proposta é "utópica" e o CDS que "não é sério fazer este tipo de promessas"

António José Seguro já garantiu que não irá prometer nada que não possa cumprir e admite que é acusado de "não fazer grandes promessas", mas a mais de um ano das eleições legislativas deixou uma proposta que não será fácil de cumprir: "Criar condições de modo a que os portugueses que vivem na rua deixem de o fazer".

A promessa foi feita numa visita à Associação CAIS, em Lisboa, e é um "compromisso" para cumprir "no espaço de uma legislatura". Após a passagem pela associação de apoio aos sem-abrigo, o líder do PS escreveu nas redes sociais que ficou chocado com o que viu."Esta manhã, na CAIS, conheci casos que me indignaram. Situações em que vivem centenas de pessoas: embrulhadas em cartões, cobertores e que dormem ao relento", afirmou o líder do maior partido da oposição, garantindo que irá trabalhar com as associações que apoiam as pessoas que vivem na rua para construir "políticas integradas que devolvam às pessoas a sua dignidade". A garantia de Seguro não é que vai deixar de haver sem-abrigo, mas sim que o seu governo criará condições para que quem "não queira estar na rua tenha um tecto", esclarecem os socialistas.

PSD E CDS NÃO ACREDITAM O PSD classifica a promessa feita por António José Seguro como "utópica". Adão Silva, vice-presidente da bancada do PSD e membro da Comissão de Segurança Social e do Trabalho, admite, em declarações ao i, que "é um propósito louvável". Mas considera que é "uma questão complexa, porque não resulta apenas dos poderes públicos, mas também das opções individuais de algumas pessoas que têm mais dificuldades em se integrarem".

Apesar da crise estar a gerar desemprego e a diminuir os rendimentos dos portugueses, Adão Silva diz ter a percepção de que a situação está "relativamente estável". "Se os Estados conseguissem pôr cobro a esta situação que nos sobressalta a todos, os países ricos tinham já acabado com o sem-abrigo".

O CDS é mais duro na reacção ao compromisso assumido pelo líder do PS. "É muito irresponsável fazer promessas dessas", diz ao i Artur Rego. O deputado centrista acusa o secretário-geral do PS de fazer "propaganda eleitoral", a menos de dois meses das eleições europeias. "Eu acharia fantástico se ele conseguisse fazer isso se ganhasse as eleições. Mas não acredito. Se fosse possível, o PS já o teria feito durante os 16 anos em que esteve no governo. Não é sério fazer esse tipo de promessas. Não se podem fazer essas coisas só para aliciar o eleitorado".

O deputado do CDS admite que a recessão levou alguns portugueses "a perderem o emprego e a perderem a casa", mas não tem dúvidas de que "o problema não se resolve com "pozinhos mágicos", porque "os sem-abrigo são uma categoria com realidades totalmente diferentes".

QUASE CINCO MIL VIVEM NA RUA Actualmente, o país tem mais de 4500 sem-abrigo. Só em Lisboa vivem 852 pessoas nas ruas, de acordo com a contagem feita pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa em Dezembro de 2013. Os conflitos familiares, o desemprego e a doença física ou mental são as principais razões que conduzem estas pessoas para as ruas. A grande maioria dos sem-abrigo inquiridos é homem e quase metade tem entre 35 e 54 anos. As equipas do programa InterGerações da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa encontraram ainda 22 pessoas que vivem na rua com formação superior.