Isabel Paulo, in Expresso
Cáritas Diocesana do Porto presta ajuda a milhares de pessoas em 26 concelhos e apoia 600 famílias com material ortopédico. Em tempos de pandemia, multiplicam-se os pedidos de auxílio de imigrantes sem apoios sociais. Bispo do Porto lança livro de reflexão assistencial este domingo, Dia Mundial dos PobresA celebrar 70 anos, a Cáritas Diocesana do Porto apela à solidariedade de todos num ano “extremamente difícil” para milhares de famílias que perderam emprego e não têm acesso a qualquer tipo de apoio social do Estado no contexto da pandemia. Paulo Gonçalves, presidente da instituição católica que presta ajuda em 26 concelhos do Porto, Aveiro e Braga e em 477 paróquias, afirma que o confinamento e as restrições do estado de emergência têm dificultada a ação da Cáritas no terreno, numa “altura em que há cada vez mais famílias fragilizadas" devido à crise económica e social.
O apelo da instituição surge dois dias antes do Dia Mundial dos Pobres, que se celebra este domingo, por proposta do Papa Francisco e em que o Bispo do Porto, Dom Manuel Linda, edita o livro 'Construtores da cidade Feliz', obra onde reflete as suas preocupações sociais, a pobreza e a solidariedade, sem esquecer temas como a edução e a democracia. “É um livro de reflexão pessoal da sociedade e de temas como a Doutrina Social da Igreja”, antecipa Paulo Gonçalves, referindo que, dadas as circunstâncias, não será lançado presencialmente, mas lembra que a receita de vendas reverterá para Cáritas Diocesana do Porto.
“Nestes tempos que tanto nos atormenta, todas as ajuda são bem vindas”, salienta o líder da instituição há três anos, que nota que desde o início da pandemia os pedidos de apoio “duplicaram e as receitas caíram para menos de metade”. Além de o confinamento ter impedido a promoção do peditório anual - “que só por si representava cerca de 50% do financiamento anual da instituição” -, a crise económica também retraiu as ajudas dos portugueses.
De acordo com Paulo Gonçalves, a Cáritas Diocesana do Porto doa todos os anos mais de 30 mil peças de roupa e calçado e milhares de quilos de alimentos e outros bens essenciais. Nos últimos anos, o responsável da Cáritas portuense avança, contudo, que face ao trabalho “notável de outras instituições que acodem às necessidades alimentares”, a Cáritas Diocesana tem centrado a sua ação na área da saúde, apoiando mais de 600 famílias com material ortopédico, como camas articuladas, cadeiras de rodas, próteses, óculos, tratamentos dentários e medicamentos.
“Substituímo-nos ao papel do Estado, cuja resposta tarda em chegar ou quando chega já não necessitam da cadeira ou infelizmente já faleceram”, refere Paulo Gonçalves, que adianta que são cada vez mais os idosos a terem de “escolher entre medicamentos prescritos para terem como pagar água e luz”. Para prestar ajuda de forma mais rápida, a Cáritas Diocesana conta com o colaboração de uma equipa da Universidade Católica do Porto, que integra, docentes, alunos e enfermeiros, que através de uma ação integrada entregam equipamentos em 48 horas a quem precisa.
Uma das situações “mais dramáticas” que a pandemia revelou à dos imigrantes a viver sem vistos no país e que trabalhavam na “economia informal”. “Foram os primeiros a ficar sem trabalho e como não tinham vínculos laborais não têm acesso a qualquer tipo de apoio social” , alerta Paulo Gonçalves, contando que quando se dirigem à Segurança Social são encaminhados para a Cáritas Diocesana. Os imigrantes são, sobretudo, oriundos dos PALOPs e Brasil, mas também existem ucranianos, colombianos e venezuelanos a pedir apoios básicos.