Valor, referente a 2019, é o mais baixo desde 2000. Dois em cada cinco agregados familiares vivem com, no máximo, 833 euros mensais. 9,5% da população empregada, em Portugal, era pobre, em 2020. À Renascença, o presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza alerta que os números já se agravaram com a pandemia.
Em 2019, mais de 1,6 milhões de pessoas residentes, em Portugal, ou cerca de 16,2%, viviam com rendimentos inferiores ao limiar de risco de pobreza, em 2019.
Os dados são avançados pela PORDATA, este domingo, num relatório enviado à Renascença, para assinalar o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.
Este é o valor mais baixo desde 2000, enquanto as taxas mais elevadas registaram-se em 2003, 2013 e 2014, quando a pobreza atingia cerca de um em cada cinco indivíduos.
Em análise a estes dados, o padre Jardim Moreira, presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza, ouvido pela Renascença, avisa que os números, entretanto, já se agravaram, por causa da pandemia.
"Portugal anda sempre atrasado nas questões que não lhe convém saber, nomeadamente, nas injustiças sociais. A nível de comércio, os dados andam certinhos a cada mês. Estes não andam, porque não há respostas atempadas aos problemas", critica.
Dos 5,4 milhões de agregados familiares com declarações de IRS, referentes a 2019, cerca de dois em cada cinco agregados vivia, no máximo, com 10.000 euros por ano, ou seja, 833 euros mensais.
Quase 40% dos agregados compostos por dois adultos com três ou mais crianças estavam em risco de pobreza, em 2019.
Já no caso dos agregados domésticos de um adulto com uma ou mais crianças, em 2019, um em cada quatro era pobre (25,5%).
Cerca de 24% de adultos que vivem sozinhos, sem crianças, estavam em risco de pobreza, em 2019.
9,5% da população empregada era pobre
Em 2020, mais de 257 mil pessoas recebiam o Rendimento Social de Inserção (RSI), sendo este o valor mais baixo desde 2006.
Destes, mais de metade são mulheres (52%) e mais de dois em cada cinco (41%) têm menos de 25 anos.
Entre 2010 e 2020, o total de pessoas abrangidas decresceu 51%.
9,5% da população empregada, era pobre, em 2020, de acordo com a PORDATA.
Este número coloca Portugal entre os países com maior risco de pobreza entre trabalhadores.
Sete países estão acima de Portugal, incluindo Espanha com 11,8% e a Roménia com a taxa mais alta de 14,9%.
Em sentido inverso, há 14 países com uma taxa de população empregada pobre menor que a portuguesa, com a Finlândia a ter a melhor taxa, de 3,1%.
Para o padre Jardim Moreira, estes dados demonstram que "não é sustentável o pensamento injusto de que a pobreza é uma opção".
"Os extremismos e os populismos acusam os pobres de perguiça. A verdade é que as pessoas trabalham e nem assim conseguem ter uma vida digna", critica, ouvido pela Renascença.
O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza alerta, ainda, que estes números provam que a lei laboral "permite que estes trabalhadores sejam explorados" e carece, por isso, de uma revisão.
"As empresas também geram pobres. Os funcionários, por vezes, têm de sujeitar a salários incapazes de os sustentar. Há uma responsabilidade social das empresas que deve ser assumida", pede.
Comparando o ano de 1974 com o ano de 2020, e descontando o efeito da inflação, as pessoas que recebem o salário mínimo recebem mais 138,7 euros do que em 1974.
Os beneficiários das pensões mínimas de velhice e invalidez do regime geral da Segurança Social recebem praticamente o mesmo, denotando-se um aumento de apenas 7 euros, face a 1974, no valor das pensões.
19% dos menores de 18 anos viviam em pobreza
Em Portugal, mais de 17,5% da população com 65 ou mais anos vivia numa situação de pobreza, em 2019.
Em 2020, mais de 1,5 milhões de pensionistas da Segurança Social recebiam uma pensão, de velhice ou invalidez, inferior ao salário mínimo nacional.
Quase 80% destes pensionistas vivia com menos de 635 euros (a preços correntes, em 2020).
No entanto, são os mais jovens que têm a maior taxa de risco de pobreza, indica a PORDATA.
Em 2019, 19% dos menores de 18 anos viviam em pobreza, um valor que aumentou face a 2018.
"Um problema muito sério"
À Renascença, o padre Jardim Moreira acredita que estes números são devido "a um problema estrutural" da sociedade portuguesa.
"A responsabilidade da paternidade deixa muito a desejar, em Portugal. É um problema muito sério", aponta.
O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza diz ser "fundamental que se entenda que devemos apoiar políticas de proteção das famílias e das crianças".
380.435 alunos do ensino público não superior tiveram apoio sócio-económico, e 229.846 tiveram refeições subsidiadas pela Ação Social Escolar, em Portugal Continental, em 2019.
O número de beneficiários destes apoios tem aumentado progressivamente, sendo o ano de 2019 o ano em que mais estudantes receberam apoio socioeconómico, desde 1981.
Cerca de um em cada quatro residentes, com, no máximo, o nono ano de escolaridade era pobre, em 2020.
Em Portugal, o valor abaixo do qual se considera que alguém é pobre situava-se, em 2019, nos 6.480 euros anuais, ou seja 540 euros mensais.