Diana Cardoso, in JN
A incapacidade de cumprir as metas estabelecidas mundialmente e a nível nacional para o combate à pobreza face ao aumento do número de pobres causado pela pandemia foi a principal preocupação levantada pelo presidente da República, este domingo, durante o lançamento do livro póstumo, "Que fizeste do teu irmão?" de Alfredo Bruto da Costa.
Há uma "urgência da pobreza" e por isso é preciso o "empenhamento de todos nós", disse Marcelo Rebelo de Sousa no seu discurso. "Antes da pandemia, dizia-se que havia perto de 100 milhões de pobres e depois da pandemia, perto de 120 milhões de pobres no mundo. Antes da pandemia, dizia-se que havia 2 milhões de pobres em Portugal, depois da pandemia 2 milhões e 200 mil", prosseguiu.
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"O primeiro grande objetivo de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas [a erradicação da pobreza] muito provavelmente já não vai ser atingido. O grande objetivo da Estratégia Nacional Contra a Pobreza aponta para a saída da pobreza de 360 mil portugueses e portuguesas até 2030. O que significaria, se tudo continuasse na mesma, se não houvesse fatores de crise e agravamento, que demoraria cerca de 50 anos para atingir os 2 milhões e 200 mil", frisou o chefe de Estado.
"Temos, portanto, um problema enorme, um problema primeiro", reforçou. É um tema de relevância reconhecido na obra de Alfredo Bruto da Costa, ministro da Coordenação Social e assuntos Sociais no Governo de Maria de Lourdes Pintasilgo, falecido em 2016, o que levou Marcelo a considerá-lo um "profeta". "Não foi só no antigo testamento que houve profetas", disse, aludindo ao papel que o antigo conselheiro de Estado teve na luta contra a pobreza.
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A relevância dos assuntos abordados no livro, com o subtítulo "Um olhar de fé sobre a pobreza no mundo" publicado pela Editorial Cáritas, foi também reconhecida por Guilherme d'Oliveira Martins. O ex-ministro do governo de António Guterres falou em "subsidiaridade" e da necessidade de se alargar a visão sobre este assunto a um plano global e não a sua limitação a um plano "local".
A distribuição das vacinas a nível mundial não foi feita de forma "equitativa", disse. "A privação é o primeiro domínio que deve ser considerado na distribuição dos recursos. Para isso, é preciso garantir que haja recursos suficientes".
Citando a obra de Alfredo Bruto da Costa, Oliveira Martins refere que "atenção e cuidado, justiça distributiva e equidade geracional" é a "solução".
No final da apresentação do livro, que decorreu na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa condecorou a título póstumo Alfredo Bruta da Costa com as insígnias de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade, tendo as mesmas sido entregues à esposa do homenageado, Vera Bruto da Costa e às suas filhas Madalena e Margarida Bruto da Costa, que discursaram na cerimónia.