25.10.21

Portugal é o país da UE que menos energia poupa nas habitações

in RTP

Os edifícios de habitação em Portugal são os que menos energia poupam em comparação com os restantes países da União Europeia, incluindo o Reino Unido. A conclusão é de um estudo do grupo de investigação da União Europeia, Joint Research Centre (JRC). Também nos edifícios não residenciais, Portugal teve um nível de poupança mais baixo do que os 28 países. Para a associação ecologista Zero, o estudo evidencia que são necessárias intervenções de fundo, que aumentem o uso de energias renováveis.
O estudo analisou o progresso dos Estados-membros na implementação da Diretiva de Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD, na sigla inglesa), que está atualmente em revisão e que define as regras para um conjunto habitacional que se aproxime da neutralidade carbónica.

"Portugal é o país da UE-28 a apresentar os valores mais baixos de poupança energética nos edifícios residenciais nos três níveis de renovações" (profundas, médias e ligeiras), sublinhou a Zero - Associação Sistema Terrestre Sustentável, com base no relatório do organismo europeu.

Os autores do estudo observaram, entre outros fatores, o impacto de obras de renovação, tanto médias e ligeiras como profundas, no consumo energético dos edifícios entre 2005 e 2018.

“O relatório demonstra que as renovações profundas apresentaram um impacto muito mais significativo na poupança energética em comparação com as renovações de nível ligeiro e médio”, acrescenta a associação, em comunicado, notando contudo que a maior parte das obras realizadas pelas famílias e construtores são renovações médias e ligeiras.

A associação destaca que “o parque edificado português é um parque obsoleto, nomeadamente no setor residencial”, muito por causa do “envelhecimento natural dos materiais e da ausência de manutenção", mas também das "características físicas do edifício, nomeadamente ao nível do baixo desempenho térmico da envolvente e a ineficiência dos sistemas energéticos instalados".

Segundo o relatório, Portugal registou um crescimento exponencial no número de certificados energéticos emitidos entre 2011 e 2018 (225% nos edifícios residenciais, 633% nos edifícios não-residenciais e 379% nos edifícios públicos.

Será uma consequência do facto de a legislação existente entre a década de 1990 e 2006 não apresentar qualquer caráter de obrigatoriedade. A implementação do sistema de certificação energética teve início em 2006, bem como a aplicação de uma legislação mais robusta e dedicada à eficiência energética, refere a Zero.

Por outro lado, a associação Zero considera que os incentivos fiscais e instrumentos financeiros promovidos para a melhoria da eficiência energética em Portugal têm "ainda resultados limitados".

"Portugal ainda está aquém do desempenho energético desejado para os edifícios e necessita avançar com as ações a nível nacional, em consonância com as políticas e estratégias atuais para cumprir com o objetivo de neutralidade climática", defendeu a Zero.

Para justificar a posição, a associação destaca que o estudo apurou que “o desempenho de Portugal no que diz respeito aos Nearly Zero Energy Buildings (NZEB), isto é, edifícios com necessidades quase nulas de energia, ficou aquém do recomendado, tendo ultrapassado significativamente os valores de referência da energia primária recomendados pela Comissão Europeia”.

Para atingir a meta definida “em matéria de energia e clima a que se propõe no âmbito do Plano Nacional de Energia e Clima 2030 e do Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050, é importante uma profunda renovação energética do parque edificado existente”, insiste a associação ambientalista.
Progressos mistos
Entre 2005 e 2018, nos 28 países da União Europeia, o setor residencial apresentou uma redução de, aproximadamente, 10 por cento no consumo final de energia, devido a melhorias na eficiência energética e a invernos mais amenos.

Por outro lado, o setor comercial europeu teve um aumento de dois por cento, devido ao crescimento económico, aponta o relatório.

No entanto, os autores do estudo, que notam a dificuldade no acesso a informação fidedigna, consideram que a taxa de renovação ainda é baixa