Rita Valadas, opinião, in TSF
Hoje, 17 de Outubro, celebra-se o dia Internacional de Luta pela Erradicação da Pobreza
A luta pela subsistência e por uma vida condigna acompanhou toda a história da humanidade, particularmente através do trabalho diário e da entreajuda de proximidade. A forma como olhamos, escutamos e intervimos na pobreza tem cambiantes próprios da conjuntura e por isso quando falamos deste fenómeno geracional nem sempre temos a mesma leitura, nem a mesma perceção, mas temos a convicção, cada vez mais urgente de que é preciso encontrar novos caminhos para agir.
Neste dia, olhar para esta realidade é especialmente significativo.
De alguma forma a Pandemia veio baralhar e desviar algum do rumo que levávamos no sentido do individualismo, mas também percebemos que a mudança foi rápida, drástica, mas não duradoura o suficiente para produzir efeitos. Quero com isto dizer que, de alguma forma, os hábitos estão a retomar o seu normal e não o tão esperado "novo normal". A proximidade continua assim a ser um desafio que, na Cáritas, por exemplo, se reveste de uma importância crucial para o sucesso das medidas de combate à pobreza. Gostaríamos de olhar a pandemia pelas lições boas que o confinamento obrigatório nos trouxe, sobretudo na escuta dos mais frágeis e dos mais próximos, mas, nas relações pessoais, assistimos a um regresso aos ritmos e tempos que nem sempre facilitam esta atenção à proximidade.
Por outro lado, o "trabalho diário"... Sabemos hoje, com a clareza de quem estudou esta situação que não é verdade que só o trabalho diário seja premissa de uma vida desviada da pobreza. O equilíbrio é demasiado frágil e quando o inesperado surge percebemos que a tendência é descer os degraus que nos aproximam da estatística da pobreza.
A perceção pessoal sobre a nossa própria situação e a forma como politicamente olhamos e lemos os dados da pobreza também traz implicações para a forma como se atua.
"O Estado português, implementado pelos vários governos e outros órgãos de soberania, ao longo de mais de quarenta anos, configura-se mais estatizante que servidor, ou socializante, e mais controlador que cooperante. Mas não é inevitável que assim continue." (In: Acácio Catarino)
É certo que não podemos baixar os braços no desafio de erradicar a pobreza
Termino hoje falando de um momento que está agendado para esta tarde. A apresentação publica do livro "O que fizeste do teu irmão?"
A Cáritas Portuguesa assinala desta forma o Dia Internacional pela Erradicação da Pobreza. A obra, de autoria de Alfredo Bruto da Costa recorda a sua vida de defensor da causa dos mais pobres, leva-nos a um reencontro com a sua convicção pelas suas próprias palavras e mantém vivo o seu pensamento e a sua luta contra a pobreza, pela justiça e pela dignidade humana.
Esta obra nasce de um trabalho conjunto com o Fórum Abel Varzim e a própria família de Alfredo Bruto da Costa e é um contributo para uma verdadeira leitura da pobreza e das suas causas.
O evento que contará com a apresentação de Guilherme de Oliveira Martins e a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, será transmitido no Facebook da Cáritas Portuguesa e será uma oportunidade de também cada um de nós tornar este dia diferente. Será a partir das 16h30.
Esperamos que este momento nos inspire a todos.
Feliz domingo.