Natália Faria, in Público on-line
Porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, Manuel Barbosa, rejeita encobrimento de casos e garante que a Igreja respeitará “a verdade histórica” das denúncias apresentadas, mas continua sem se comprometer com um levantamento retrospectivo dos casos, à semelhança do que se fez em França.
Porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), o padre Manuel Barbosa, admitiu, esta terça-feira, em Fátima, que a Igreja Católica poderá vir a adoptar “novas medidas” de prevenção e combate aos abusos sexuais cometidos por membros do clero português.
“Se a CEP julgar conveniente, poderá tomar outras medidas, sempre no propósito de rejeitar qualquer encobrimento de casos, de fazer justiça às vítimas e respeitar a verdade histórica das denúncias apresentadas”, referiu, em declarações citadas pela agência Ecclesia e proferidas no decurso da conferência de imprensa que se seguiu à reunião mensal do Conselho Permanente da CEP.
Uma semana depois de, em França, um relatório feito por uma comissão independente, a pedido do episcopado francês, ter concluído que mais de dois mil padres e outros clérigos abusaram sexualmente de mais de 200 mil menores nos últimos 70 anos, o porta-voz da CEP rejeitou que haja resistência dos bispos portugueses sobre esta matéria.
A questão levantou-se depois de, em declarações ao PÚBLICO, o bispo Américo Aguiar, coordenador da comissão diocesana de protecção dos menores do patriarcado de Lisboa ter admitido um levantamento retrospectivo semelhante, mas apenas desde que este não seja circunscrito ao clero. “Se queremos atacar verdadeiramente o flagelo da pedofilia, não podemos colocar o foco exclusivamente nuns agentes, criando uma omissão em relação a todos os outros agentes envolvidos”, sustentou Américo Aguiar.
“A Assembleia Plenária, a Conferência Episcopal estará sempre atenta e tomará as medidas que achar convenientes, não tem medo de as tomar, para que esta situação não se arraste”, insistiu o porta-voz da CEP, confirmando que este organismo representativo dos bispos portugueses está a constituir um grupo coordenador das eventuais queixas relativas a abuso sexual de menores no seio da Igreja, para “chegar a critérios e procedimentos comuns” e aplicáveis nas diferentes dioceses de Portugal.
O “manual” de procedimentos vai servir de apoio a todas as comissões diocesanas criadas por imposição do Papa Francisco para prevenir novos casos e acolher eventuais queixas. “A Igreja reconhece a gravidade da situação dos abusos de menores e adultos vulneráveis e continua a tratá-la com toda a seriedade, a partir de cada diocese”, enfatizou ainda Manuel Barbosa, reiterando que a denúncia de casos pode ser feita “a qualquer comissão diocesana, que a trata e encaminha a nível canónico e civil, comunicando-a às devidas autoridades”.