A sétima edição do Programa Gilead Génese premiou 13 projetos nas áreas da investigação científica e da intervenção comunitária, um valor recorde desde o início destes prémios
Mais cooperação entre sector público e privado, maior aposta nos cuidados de saúde e um bom aproveitamento dos fundos trazidos pelo Plano de Recuperação e Resiliência é a receita prescrita pelos especialistas à saúde. Estas foram as grandes conclusões do evento Programa Gilead Génese, organizado esta tarde pela Gilead Sciences, com apoio do Expresso
A capacidade colaborativa verificada durante os últimos 19 meses de pandemia deve, na opinião dos peritos, ser um ensinamento para o futuro. “Temos de continuar a trabalhar em conjunto”, apela Helena Canhão. No entanto, a professora catedrática da Faculdade de Medicina da Universidade Nova de Lisboa alerta para as consequências da concentração de esforços na saúde no combate à covid-19. “Os recursos de saúde foram todos dirigidos à covid e vamos ter, nos próximos dois ou três anos, problemas noutras patologias”, antecipa.
A especialista falava esta tarde no evento Programa Gilead Génese, organizado pela Gilead Sciences com o apoio do Expresso, que incluiu um debate sobre as lições aprendidas com a pandemia. Do lado do sector privado, Isabel Vaz, presidente da Comissão Executiva da Luz Saúde, fez questão de recordar que, no início deste ano, “ia colapsando todo o Serviço Nacional de Saúde” e que o papel dos privados foi essencial na resposta à crise. “Se voltar a acontecer uma pandemia, temos de ter essa lição bem presente e articularmos (sectores privado e público) desde cedo”, defende.
Na sétima edição da cerimónia que premeia projetos de investigação científica e intervenção comunitária, que decorreu no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa, foram ainda apresentadas as 13 candidaturas vencedoras (conheça em baixo, após as conclusões do evento, a lista completa de galardoados).
“São projetos inovadores”, assinala Vítor Papão, diretor geral da Gilead Sciences, que reconhece que as ideias apresentadas “foram, em muito, influenciadas pelo contexto pandémico”. Aliás, precisamente na sequência da crise sanitária, a organização incluiu, nesta edição, uma nova área terapêutica dedicada à covid-19 entre as categorias premiadas. O responsável acrescenta ainda que acredita no “impacto real” destes projetos, que poderão contribuir para “melhores resultados em saúde”.
Conheça as principais conclusões do debate moderado pela jornalista da SIC Rosa Oliveira Pinto, em que participaram Helena Canhão (Universidade Nova de Lisboa), Isabel Vaz (Luz Saúde), Henrique Barros (Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto) e José Gomes Ferreira (SIC):
PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS NA SAÚDE DEVEM CONTINUAR
“Irá haver várias coisas parecidas com esta”, afirma Helena Canhão, aludindo à possibilidade de surgirem, nas próximas décadas, novas pandemias. Porém, acredita, é possível preparar o país para lidar com essas novas situações sanitárias se existir planeamento, mais investimento na saúde e maior colaboração com os sectores social e privado.
Isabel Vaz concorda e recorda que “o sistema de saúde foi de uma resiliência e adaptabilidade impressionantes”, embora com custos elevados para a saúde, nomeadamente pela interrupção da atividade assistencial para lá da covid-19. “Podíamos ter tido um custo inferior se nos tivéssemos coordenado mais cedo”, aponta.
Sobre os investimentos na saúde financiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que prevê investir uma verba de cerca de 1,4 mil milhões de euros, José Gomes Ferreira não considera que seja o elemento mais importante no reforço do sistema, mas sim, o Portugal 2030. “O próximo quadro comunitário devia ter mais dinheiro para a saúde”, analisa o Diretor-Adjunto de Informação da SIC.
Já Henrique Barros, presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, pede, além de cuidados especiais às restantes patologias que não a covid-19, que o país invista na formação de especialistas em saúde pública, área que considera abandonada em Portugal. “Portugal é dos poucos países da Europa que não tem uma licenciatura em saúde pública”, critica, e diz ser preciso “investir mais nestas áreas em que os resultados não se veem logo”.
VENCEDORES PROGRAMA GILEAD GÉNESE
Investigação
Dispositivo Intrauterino (DIU) para prevenção do VIH
A equipa do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde prevê o desenvolvimento de um DIU que combine a contraceção e a proteção contra a infeção por VIH.
Efetividade da vacinação covid-19 nos doentes oncológicos
A iniciativa do Instituto Gulbenkian da Ciência foca-se na avaliação da eficácia da vacina nesta população, identificando a duração da proteção e procurando contribuir para o desenvolvimento da medicina personalizada em Portugal.
RNAscope dos tecidos linfoides de infetados pelo HIV-2 ou HIV-1
O Instituto de Medicina Molecular investiga o impacto destes vírus a nível intestinal para identificar alvos que promovam a reparação da mucosa intestinal em doentes com infeção HIV-1 sob tratamento antirretroviral.
Vacina intranasal genética contra a covid
As atuais vacinas para a covid-19 não evitam a infeção das vias respiratórias nem a transmissão do vírus, algo que a equipa da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra quer alterar. A vacina intranasal pode ser a solução.
Prevenir e tratar covid-19
O projeto da Faculdade de Veterinária da Universidade de Lisboa pretende desenvolver anticorpos recombinantes de elevada potência e neutralização para a prevenção e tratamento da infeção por SARS-CoV-2.
iCoV2PLUS
A equipa do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde procura aumentar, através da sequência genética iPLUS, a estabilidade do RINA e a produção de proteínas recombinantes. Aumentar a proteção contra a covid-19 é a prioridade.
Comunidade
VIH 50+
Esta abordagem integrada ao envelhecimento ativo da Positivo – Gruupos de Apoio tem como objetivo implementar uma intervenção na qualidade de vida de pessoas infetadas por VIH com 50 anos ou mais, através da nutrição, psicologia e atividade física.
TCare
A Fundação Portuguesa A Comunidade Conta a SIDA desenvolveu um projeto para avaliação e promoção da qualidade de vida de pessoas infetadas com VIH, garantindo o seu correto acompanhamento médico.
Direito à VIHda
Defender e promover os direitos das pessoas com VIH é o grande objetivo da Associação Portuguesa para a Prevenção e Desafio à SIDA, envolvendo profissionais da área psicossocial, terapia ocupacional, advocacia ou marketing, entre outros. Empoderamento destes doentes é o foco.
IInFraCo
Intervenção Integrada na Fragilidade pós-Confinamento (IInFraCo), da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, pretende implementar um programa de mobilidade, equilíbrio, coordenação e marcha nórdica em adultos com mais de 65 anos, melhorando o seu estilo de vida.
Saúde em Rede
A iniciativa da Liga Portuguesa Contra a SIDA quer criar espaços especializados em infeções sexualmente transmissíveis nos centros de saúde, promovendo o rastreio e acesso equitativo aos cuidados de saúde.
Com Consciência
A Bué Fixe Associação de Jovens pretende sensibilizar a comunidade, incluindo imigrantes, para a educação sexual, prevenindo sobre VIH e capacitando os jovens com informação e conteúdos educacionais em multimédia.
ConSOLidar Laços
Este campo pretende proporcionar a 15 crianças e jovens infetados com VIH umas férias diferenciadas, onde, entre todos, possam partilhar experiências relacionadas com o vírus e os desafios que representa.