Alexandra Correia, José Carlos Carvalho, in Visão
Em pleno centro histórico, rodeado por todos os lados de apartamentos para “estrangeiro pagar”, existe um bairro que cai de velho e de podre, onde há famílias que vivem sem casa de banho, debaixo de um teto de lata. Fomos conhecer a Quinta do Ferro, na Graça
Matilde Cunha, 72 anos, sai da porta da frente da sua casa na Rua B e entra na porta ao lado, que dá para um pequeno logradouro. Vai à “casa de banho”. Tem lá uma pia e um pote de plástico onde faz as necessidades. Para tomar banho, aquece a água no fogão e lava-se numa bacia. Ela, o marido e dois filhos.
Na casa de tabique, o chão está a abater, há buracos nas paredes e humidade por todo o lado. Pela pequena habitação de dois quartos pagam 90 euros mensais ao senhorio: a Câmara Municipal de Lisboa. Matilde vive ali há 52 anos, mas só recentemente é que entrega a renda à autarquia; durante anos, pagou-a a um senhorio falso, que lhe passava um “recibo à mão”.