Por M. Correia Fernandes, in Voz Portucalense
É conhecida a faceta do P. Agostinho Jardim Moreira na sua ação como responsável e dinamizador da luta contra a pobreza e exclusão social na cidade do Porto e na sociedade portuguesa, que o conduziu à Presidência da Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal, cargo que exerce desde 1992. A Rede Europeia Anti-Pobreza designa-se pela sigla EAPN (European Anti-Poverty Network) e em versão portuguesa EAPN Portugal, com sede na Rua Costa Cabral, 2368 no Porto.
Ao longo destes mais de trinta anos, Jardim Moreira pronunciou intervenções em numerosos encontros, quer em Portugal quer em outros países, agora compiladas em volume, em edição da EAPN Portugal, 2021, que leva por título 30 anos de luta contra a pobreza e exclusão social e que reúne as intervenções produzidas ao longo deste tempo e com destinatários muito diferentes e diversificados.
O volume é apresentado por um prefácio de Maria Joaquina Madeira, Vice-Presidente da EANP Portugal, salientando que as palavras proferidas ao longo dos anos “convergem de forma admirável com o pensamento do papa Francisco, na sua Mensagem de 14 de novembro [de2021] no Dia Mundial dos Pobres: A pobreza deveria incitar a uma ação criativa (…) dar vida a processos de desenvolvimento que valorizem a capacidade de todos”.
O primeiro texto agora publicado data de março do ano 2000 e o último de 12 de maio de 2021. Pelo meio surgem os mais diversos problemas, motivos de preocupação e propostas. Evidenciamos aqui alguns, que dão conta da abrangência do problema e de propostas vias de solução: Direitos Fundamentais na União Europeia, Inclusão social, repensar a pobreza dos idosos, estratégias de combate à pobreza, pontes entre o emprego e a inclusão social, envelhecimento ativo, oportunidades e compromissos para as comunidades ciganas, novas formas de pobreza, violência doméstica, estratégias de erradicação da pobreza, as pessoas sem abrigo, responsabilidade coletiva na ação, uma sociedade inclusiva, as abordagens do tema da pobreza e desigualdades sociais.
Os destinatários das mensagens situaram-se nos mais diversos níveis de intervenção social, desde organismos internacionais, Faculdades e Universidades, Conferências de múltiplas iniciativas, Fóruns sobre novas pobrezas, problemas da família em tempos de crise e tantos outros. O que traduz, ao longo das 311 páginas da publicação, a atenção que tais iniciativas dedicam à EAPN como força de intervenção social. Fica assim registado e refletido neste universo um retrato alargado de temas e de ações propostas, motivo de reflexão e desenvolvimento de pensamento e ação.
Evangelizar em tempo de pandemia
Este é um outro volume em que o P. Jardim Moreira recolhe mensagens transmitidas ao longo destes dois últimos anos, procurando reduzir a escrito as reflexões que foram sendo preparadas em torno dos problemas e dramas emergentes, detetados e vivenciados.
O livro (150 páginas) está organizado em duas partes. A primeira lança olhares sobre as vivências do quotidiano, como a verdade e a mentira, a missão dos cristãos na sociedade, a cultura do diálogo, o papel da comunicação social, a sexualidade humana, o matrimónio como vocação, a capacidade de saber escutar. A segunda parte reúne um conjunto de meditações sobre as mensagens da Liturgia de cada domingo, desde o Quinto da Quaresma até à Solenidade de Cristo Rei: um percurso temático que é também um percurso da vivência individual e comunitária da Palavra de Deus. Aí surgem as múltiplas linhas de orientação evangélica aplicadas à vivência pessoal. Constitui portanto um oportuno conjunto de reflexões que podem ajudar cada uma a avivar o espírito evangélico nos dramas de cada dia.
Registamos duas mensagens de apresentação, com que se inicia esta publicação.
“Nas páginas desta colectânea de textos… o Padre Jardim convida a aproveitar o tempo de confinamento para reavivar e fortalecer a amizade com Deus e com os outros” (Irmão Alois, Comunidade de Taizé).
“Mensagens de pensamentos espontâneos, sempre de uma verdade e oportunidade inquestionáveis, duma clareza sem limites… cuja leitura se devora e se fica a pensar em silêncio” (António Lopes).
Poderíamos resumir o sentido destas reflexões no título do primeiro dos seus textos: “Olhar a pandemia com olhos de fé”. Este é de facto um olhar não apenas sobre a pandemia e suas incidências, mas também de todos os acontecimentos e circunstâncias das nossas vivências quotidianas, nas suas dimensões humanas, espirituais, eclesiais, culturais, a dimensão plena da pessoa.