A taxa regional é o triplo da média nacional e os Açores são “a região portuguesa onde há menos gente com o ensino superior”. Para o sociólogo Fernando Diogo, é importante estudar as causas deste fenómeno e promover o sucesso escolar.
O sociólogo e professor da Universidade dos Açores, Fernando Diogo, alertou esta quarta-feira para a estagnação da taxa de abandono escolar precoce de educação e formação entre os 18 e os 24 anos nos Açores, que é já a mais alta da Europa.
“Em 2020, acontecem duas coisas muito preocupantes. A taxa regional é o triplo da média nacional, por um lado e, por outro lado, infelizmente torna-se a taxa mais alta de entre todas as regiões da União Europeia”, afirmou, em declarações aos jornalistas em Angra do Heroísmo, à margem do Fórum da Educação, integrado no Conselho Coordenador do Sistema Educativo.
Segundo o sociólogo, é sobretudo “preocupante” a estagnação da taxa de abandono escolar precoce de educação e formação entre os 18 e os 24 anos, que em 2020 atingia os 27% na região, quando a média do país era de 8,9%.
“Até 2017, os Açores acompanhavam a tendência nacional de uma forma muito paralela de descida desta taxa, mas a partir de 2017 a taxa nacional continua a descer e a regional estabiliza”, explicou. “As outras regiões continuam a descer e a Guiana francesa, que era a mais alta, já está ligeiramente abaixo do valor dos Açores”.
Em causa estão jovens entre os 18 e os 24 anos, “que já deixaram o sistema de ensino e não completaram pelo menos o 12.º ano”.
Para o sociólogo, é importante estudar as causas deste fenómeno e promover o sucesso escolar para travá-lo. “O problema é conseguir que estes jovens tenham mais sucesso escolar, para quando chegarem aos 18 anos e estiverem a pensar em deixar a escola já tenham o 12.º ano, ou até continuem um pouco mais”, defendeu.
O especialista lembrou que os Açores são “a região portuguesa onde há menos gente com o ensino superior”.
"Excessivo foco” nas construções escolares
A proposta do Governo Regional de criação de uma estratégia da Educação para a década é vista com bons olhos por Fernando Diogo, que alerta ainda assim para o perigo de o programa se focar demasiado nas infra-estruturas e nas condições laborais dos professores.
“Uma primeira ameaça é ficar refém das reivindicações laborais dos professores, que são muito importantes, obviamente, mas que muito facilmente se sobrepõem a tudo o resto graças à dinâmica reivindicativa e capacidade de intervenção pública dos sindicatos”, frisou.
O investigador criticou por outro lado o “excessivo foco” nas construções escolares, alegando que as verbas da Educação no Plano e Orçamento da Região são praticamente destinadas às infra-estruturas. “É bom termos boas escolas, mas isso não é de todo importante, nem decisivo, para a questão que é fundamental, que é a construção do sucesso escolar dos alunos nas suas várias componentes”, apontou.
Fernando Diogo propõe uma estratégia com foco nos alunos e para isso defende uma maior aposta na “organização das escolas, na formação pós-escolar dos professores e na supervisão do trabalho dos professores”.
“O trabalho dos professores é totalmente decisivo para o sucesso escolar dos alunos, num contexto em que nós também sabemos que o principal preditor do sucesso escolar dos alunos é a escolaridade da mãe”, avançou.
“Num contexto de uma região autónoma onde as escolaridades são baixas, podemos esperar resultados baixos dos alunos e se nós queremos quebrar esse problema terá de ser por via do trabalho dos professores e da organização das escolas”, acrescentou.
Questionado sobre o programa Pro-Sucesso, implementado pelo anterior Governo Regional, o sociólogo reconheceu que teve “inúmeras coisas positivas e importantes”. “É preciso de facto sobretudo organizar melhor e não tanto deitar fora um trabalho que já está feito, porque recomeçar será ainda pior”, apelou.