3.3.22

ImpactMarket: Combate à pobreza em formato digital e sem intermediários

Diogo Ferreira Nunes, in Dinheiro Vivo

Fundador da ​​​​​​​eSolidar criou plataforma blockchain para atribuir rendimento básico incondicional em forma de criptomoeda diretamente para telemóveis de 30 mil pessoas desfavorecidas nos países em desenvolvimento.

ImpactMarket aproveita a tecnologia descentralizada do mundo financeiro (DeFi) para combater a pobreza nos países em desenvolvimento. A startup, fundada em 2020, criou um protocolo com base em blockchain para proporcionar rendimento básico incondicional (RBI) sem intermediários. Depois de ter angariado mais de dois milhões de dólares (1,78 milhões de euros) de investimento, a ImpactMarket já ajuda mais de 30 mil pessoas em 30 países. Até 2030, pretende atingir mil milhões de cidadãos desfavorecidos.

"Não é possível ter um rendimento básico incondicional sem blockchain. Isso acontece porque mais de dois mil milhões de pessoas não têm acesso, sequer, a uma conta bancária", destaca o líder e um dos fundadores do ImpactMarket, Marco Barbosa.

Qualquer pessoa pode fazer donativos para as comunidades. É necessário, primeiro, instalar a aplicação móvel da ImpactMarket, disponível nos sistemas operativos Android (Google) e iOS (Apple).

No passo seguinte, cria-se uma carteira para a criptomoeda da startup, designada de Valora e que funciona com base na CeloDollar, uma criptomoeda com colateral (designada de stablecoin) na divisa norte-americana. Depois, o utilizador escolhe a comunidade que quer apoiar, sem limite de valor, sem comissões nem intermediários.

Cada comunidade, depois de receber os fundos, passa a poder adicionar ou retirar beneficiários do RBI. Para receber os fundos em criptomoeda diariamente ou semanalmente, os cidadãos desfavorecidos apenas necessitam de um smartphone - bastante comum nestes países - com a aplicação móvel ImpactMarket.

Como o dinheiro que chega aos cidadãos está associado a um colateral, "é como se recebessem um dólar por dia". Segundo Marco Barbosa, muitas das pessoas "nem chegam a fazer a conversão para a moeda local porque também os comerciantes locais confiam cada vez mais em nós".

Argentina, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Venezuela, Camarões, Palestina, Colômbia, Peru, Índia e Zimbábue são alguns dos países incluídos.

A startup também pertence ao mundo da Web3, que pretende descentralizar a internet. Graças a isso, o doador também pode influenciar os destinos do protocolo, ao ganhar um token de governação, designado de $PACT e que corresponde a uma fração.

No futuro, o protocolo Impact Market, atualmente desenvolvido pela ImpactLabs, "será totalmente descentralizado e deixará de depender de nós, como se fosse um bem público", antecipa Marco Barbosa.

De assinalar ainda que a blockchain usada pela ImpactMarket, a Celo, é negativa em emissões de carbono; isto é, além de consumir menos energia nas operações do que a concorrência, a entidade ainda compra créditos de emissões.

Com uma equipa de 23 pessoas, a ImpactMarket funciona totalmente em formato remoto e é liderada por Marco Barbosa, também fundador da plataforma para gerir ações de responsabilidade social eSolidar. A plataforma foi fundada por outros três portugueses: Bernardo Vieira (responsável tecnológico), Rui Ramos (responsável financeiro) e Afonso Barbosa.

A ideia para este protocolo nasceu nos Estados Unidos, quando Marco Barbosa frequentou, antes da covid-19, um curso sobre blockchain numa universidade privada no estado norte-americano da Califórnia. Depois, o português esteve num hackaton (maratona de programação) em São Francisco, onde pôde começar a construir a solução.

No futuro, a ImpactMarket pretende disponibilizar soluções de microcrédito e também proporcionar minicursos para as pessoas poderem aprender a gerir melhor o orçamento e ganhar tokens de governação.