15.3.22

Sem-abrigo "estão tão em baixo que nem olham pela saúde"

Delfim Machado, in JN

O ritual é diário. Mal a luz do dia se afasta, Joaquim Aguiar, de 62 anos, estende os cobertores à porta da mesma loja de roupa. Um preto por baixo, bem dobrado, para amaciar o chão de paralelo. Outro cinzento por cima, a tapar as três camisolas e a camisa. "És da Câmara?", pergunta, já pronto a refilar por lhe terem levado os cobertores no dia anterior. "Se não és da Câmara, então és meu amigo", sentencia, chamando "bandidos" aos agentes municipais.

"Eles levam os cobertores quando as pessoas chegam de manhã para abrir a loja e fazem queixa porque têm tudo à porta, mas à noite nós damos-lhes outros", esclarece Carolina Vaz, voluntária de 28 anos do Centro de Apoio ao Sem-Abrigo (CASA), que ajudou a sensibilizar para a vacina alguns dos 590 sem-abrigo que as autoridades estimam que existam no Porto.


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