Ana Petronilho, in Económico on-line
Apenas 451 docentes foram colocados na mesma área, de um total de 7.945 inscritos no IEFP. No ensino, um em cada sete desempregados são mulheres.
O número de professores desempregados mais do que duplicou no ano passado e o ensino foi o sector que mais cresceu no número de inscritos nos centros de emprego. No final de 2011, eram 7.945 os docentes do secundário e superior e profissões similares que estavam inscritos no Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). Mais 120% em relação ao ano de 2010, que terminou com 3.608 professores inscritos nos centros de emprego. Uma percentagem que sobe para 225% quando se compara o número de 2011 com o 2009, que se ficava nos 2.442.
Os dados constam do último relatório anual do IEFP, que retrata a "Situação do Mercado de Emprego", e a conclusão é a de que o ensino foi a profissão que destacadamente sofreu maior crescimento percentual do número de desempregados, entre 2010 e 2011. Um panorama que se agrava, se for tido em conta que dos 7.945 professores inscritos nos centros de emprego apenas 451 foram colocados na profissão - embora aí se revele uma melhoria de 57% relativamente a 2010, ano em que só 287 foram colocados pelo IEFP.
O cenário no ensino é, de resto, desolador. A ocupar a segunda posição na tabela das profissões com o maior crescimento do número de desempregados estão os profissionais de nível de intermédio de ensino - docentes do ensino básico, primário, pré-primário e educadores de infância. Nesta categoria, a subida do número de inscritos no IEFP atingiu 40%, e no final de Dezembro de 2011 havia 5.368 docentes do ensino básico e educadores de infância nos centros de emprego. Mais 1.538 em relação a 2010, quando foram registados 3.830 inscritos.
Do universo de professores desempregados no ano passado - que representam 0,7% do total de 576.383 portugueses desempregados e inscritos no IEFP - a esmagadora maioria (71%) são mulheres e quase metade (44%) da zona Norte.
Taxa vai agravar
Apesar da percentagem esmagadora, os sindicatos não estão surpreendidos e dizem ter "consciência que o número de professores desempregados disparou no ano passado", sublinha o dirigente da Fenprof, António Avelãs ao Diário Económico. Ainda assim, tanto a Federação Nacional da Educação (FNE) como a Federação Nacional de Professores (Fenprof) prevêem um agravamento na taxa de desemprego entre os docentes. "O próximo ano lectivo vai ficar marcado por uma diminuição no recurso a professores contratados", alerta o secretário-geral da FNE, João Dias da Silva. Isto porque, completa António Avelãs, as políticas educativas que têm vindo a ser adoptadas, como a revisão curricular - que extinguiu disciplinas como o estudo acompanhado e a área de projecto e suprimiu a disciplina de EVT - o alargamento do número limite de alunos por turma, e o encerramento de escolas que resulta da concentração dos agrupamentos escolares, vão ter como resultado "a diminuição da contratação de professores".
Uma tendência que já se fez sentir em Setembro do ano passado, quando mais de 73% (37.253 de um universo de 47.732 candidatos) dos professores que foram a concurso não conseguiram um contrato. E em 2011 houve menos 25% (cinco mil) de colocações que em 2010.
No entanto, o número de contratados foi subindo durante as bolsas de recrutamento que foram surgindo durante o ano lectivo e o número de professores contratados chegou a cerca de 27 mil. Um número que, ainda assim, os sindicatos asseguram ser "insuficiente" e que representa "apenas 38% do universo de 110 mil docentes que estão no sistema de ensino", explica Dias da Silva.
As inscrições para o concurso de colocação de docentes contratados arrancam no início de Abril. Contactado pelo Diário Económico, o secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, João Casanova de Almeida, garantiu "a realização do concurso nacional para a entrada nos quadros em 2013, tal como previsto na legislação."
Educação contrata 632 trabalhadores
O Ministério da Educação deu ontem início ao processo de contratação de 632 trabalhadores para as escolas (563 assistentes operacionais e 69 técnicos), para exercer funções de auxiliares de acção educativa e para executar "tarefas de apoio indispensáveis ao funcionamento das escolas", segundo um documento da tutela de Nuno Crato. As contratações vão ser feitas por tempo indeterminado (estes lugares actualmente são ocupados por trabalhadores contratados a prazo) e será dada prioridade ao pessoal não docente com contratos a termo certo celebrados no ano escolar de 2005/06 ou seguintes.
Retrato do professor desempregado
1 - 44% são da região Norte do País
Cerca de 44% (3.523) do total de 7.945 docentes desempregados e inscritos nos centros de emprego são da região Norte. Lisboa e Vale do Tejo ocupa a segunda posição com o maior número de professores desempregados, atingindo os 1.895, pouco mais do que a região Centro do País, onde no final de 2011 havia 1.847 inscritos.
2 - Maioria são mulheres
Em cada dez professores do ensino secundário, superior e profissões similares, inscritos nos centros de emprego, sete são mulheres. No final de Dezembro de 2011, apenas 29% destes 7.945 professores eram homens. Uma tendência que se verifica também nos docentes do ensino básico e entre educadores de infância, onde 84% são mulheres.
3 - Taxa sobe 225% em relação a 2009
O aumento de 120% no número de professores do ensino secundário e inscritos no centro de emprego entre 2010 e 2011 é ainda agravado ao serem comparados os números com o ano de 2009. Isto porque, em 2009 eram apenas 2.442 os docentes que estavam nos centros de emprego. O que significa uma subida de 225%.
4 - 6.913 estão no IEFP há menos de um ano
Do total de docentes do secundário inscritos no IEFP, 6.913 estão no centro de emprego há menos de um ano. Um número bastante superior aos 1.032 que estão nesta situação há mais de um ano. Tendência que também se mantém entre os docentes do básico, em que 4.376 (de um total de 5.368) estão no IEFP há menos de um ano.