Por Nelson Pereira, in i-online
Os trabalhadores portugueses são dos que mais horas trabalham, mas a competitividade da economia nacional é das mais baixas da UE
Mais horas no trabalho não se traduzem forçosamente em maior produtividade. É o que defendem as empresas consideradas as melhores para se trabalhar.
Com o alargamento do tempo de trabalho, aumenta o número de efeitos secundários indesejados. Quando a empresa força os trabalhadores a uma excessiva carga horária, os resultados em termos de produtividade podem ser inversos ao pretendido. Contactadas pelo i, algumas das “Melhores Empresas para Trabalhar” do ranking de 2012 confirmam o sucesso desta estratégia.
Empresas como a Cisco ou a Microsoft, que ocupam sempre lugares cimeiros nestes rankings, praticam uma organização de tempo de trabalho que tem em conta esta realidade. “Uma carga horária preestabelecida ou a presença física no escritório podem não ser sinónimos de produtividade nem de bom desempenho”, diz ao i Andreia Rangel, da Cisco Portugal. Defendendo que, para que os colaboradores se sintam empenhados e comprometidos com a empresa, “é importante não se sentirem constantemente controlados e vigiados”, a directora de recursos humanos da Cisco Portugal sublinha que a empresa promove a máxima autonomia e, simultaneamente, a máxima responsabilidade na gestão do tempo de trabalho. Uma política motivada precisamente pela “preocupação com os resultados”, frisa Andreia Rangel. Isto porque a flexibilidade horária e a autonomia na gestão de tempo por cada colaborador “incentiva a criatividade e a motivação, gerando consequentemente melhor comunicação entre chefias e operacionais”, acrescenta.
A Microsoft é outro exemplo, apontada pela Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE) como uma das empresas que pratica uma política de organização do tempo de trabalho que possibilita conciliar a vida profissional, pessoal e familiar. Na multinacional é dada aos trabalhadores a possibilidade de gerir o horário de entrada ou de saída segundo a sua agenda diária e necessidades pessoais ou familiares. A Microsoft apoia esta elasticidade na organização do tempo de trabalho, permitindo que o empregado trabalhe a partir de casa e disponibilizando para isso equipamento.
Este regime de horários de trabalho flexíveis é política de recursos humanos também na portuguesa ROFF, outra empresa da lista das “melhores para trabalhar”. A ROFF decidiu não adoptar medidas de extensão do horário de trabalho, “considerando que estas teriam um impacto negativo no clima interno e reduziriam os níveis de motivação, esses sim, verdadeiramente importantes para a nossa produtividade”, explicou ao i fonte na consultora portuguesa.
Princípios idênticos são praticados na Medtronic, líder mundial em tecnologia médica em Portugal. Na Medtronic Portugal, “os aspectos motivacionais são considerados mais importantes que o tempo despendido quando o objectivo é aumentar a produtividade”, disse ao i Susana Pereira, directora de recursos humanos da empresa.
Embora os dados do Eurostat apontem uma produtividade laboral per capita em Portugal que corresponde a 76% da média da UE, os analistas lembram que o valor real é, de facto, outro, se for tida em conta a produtividade laboral por cada hora de trabalho. A produtividade nacional representaria, assim, apenas 65% da média comunitária. Traçando a comparação com o exemplo germânico, decorre que a produtividade por hora em Portugal é metade daquela que se regista na Alemanha. Isto porque os alemães produzem em média, por cada hora trabalhada, mais 24% que o trabalhador médio europeu, o que corresponde a 124% da média da UE.


