Por:Vanessa Fidalgo, in Correio da Manhã
As contas por pagar, o desemprego e a apreensão em relação ao futuro estão a tirar o sono aos portugueses.
A crise tem destas coisas: desafia o bolso, mas também o coração. Aos consultórios chegam cada vez mais portugueses que deixaram de receber os prémios anuais que lhes permitiam pagar os colégios dos filhos, que querem mas não podem divorciar-se porque as dívidas superam o amor em conta, que sofrem (e muito) pelo outro, quase sempre filho ou marido, que está no desemprego. Por isso, não admira que a crise lhes roube também o sono e que ansiolíticos, sedativos e hipnóticos ocupem já a primeira posição no grupo dos medicamentos mais consumidos em embalagens (17 330 732) e o 10º lugar em termos de facturação (cerca de 73 milhões de euros).
São casos como os de Luísa Santos, professora de matemática de 32 anos, de quem o sono fugiu ao mesmo tempo que a empresa onde o marido trabalhava, na área da engenharia civil, foi à falência. Já antes Luísa tinha dificuldades em deixar-se cair nos braços de Morfeu. Esteve um ano em tratamento, sob o efeito de calmantes e antidepressivos e melhorou. Só que a falta de sono voltou na mesma proporção em que o ordenado do marido desapareceu.
"Não tenho dificuldade em adormecer, mas duas horas depois acordo, começo a pensar nos problemas e não consigo voltar a dormir. Fico exausta, pouco tolerante e irritada", conta.
Ainda assim, levanta-se todos os dias às 05h30 da manhã, pois lecciona a 120 quilómetros de casa, à qual só regressa pelas 19h00. Quando olha para o futuro, só vê duas coisas: "Medo, incerteza e projectos por cumprir, como o de ter filhos." Há alguns dias juntou a este horário um part-time e assim conseguiu somar ao ordenado de 1100 euros outros 300.
Só que o excesso de trabalho também é prejudicial para o sono, como refere a professora universitária e neurologista Teresa Paiva. "Há agora a convicção de que tem de se trabalhar muito, para se dar muito aos filhos, e esquece-se que dormir é imprescindível. Dormir menos de seis horas por noite aumenta o risco de morte, a incidência de diabetes tipo II, hipertensão, aumento de peso, depressão, insónia e até cancro. Aumenta ainda o risco de acidentes causados pela sonolência e pela falta de concentração e afecta a parte cognitiva e emocional, o desejo e o desempenho sexual", afirma a especialista na área do sono.