19.3.12

Crescem os pedidos de ajuda às instituições que trabalham com os sem-abrigo

in Público on-line

As dificuldades de sobrevivência estão a levar cada vez mais portugueses a pedir ajuda às instituições que trabalham com a população sem-abrigo, que se desdobram para conseguir responder a estes novos pobres “filhos” da crise.

As equipas da Comunidade Vida e Paz levam para as ruas, todas as noites, 520 pequenas ceias, passando por 90 locais da cidade de Lisboa. “Há um anos eram 480 e chegavam”, disse o coordenador das equipas, Celestino Cunha.

Maria Isabel Monteiro, da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) notou um aumento do número de pessoas que estão em risco de cair na situação de sem-abrigo. “Temos muita gente a viver em carros, barracas, barcos e em habitações degradadas porque já não têm dinheiro para pagar a renda de casa, nem as próprias habitações sociais”, disse. Há uma franja da população que não vive na rua, mas tem de ser considerada sem-abrigo devido às condições de precariedade em que vivem.

Para a responsável, “as instituições e as organizações estão cada vez mais afastadas do terreno e não se apercebem que a problemática está a avolumar-se”.

O presidente da Rede Anti-Pobreza adiantou que “há muita gente que está a abandonar a casa porque não tem dinheiro ou se separou do cônjuge” devido à crise. “Há uma desintegração do tecido familiar devido à falta de dinheiro e a solução passa pela rua ou por ir comer às cantinas sociais”, disse o padre Jardim Moreira, alertando que esta situação está a crescer mais em Lisboa do que no resto do país.

Segundo os números da Assistência Médica Internacional (AMI), a pobreza aumentou 94% entre 2008 e 2011.

Retirar pessoas da rua

Mas apesar das dificuldades vividas no terreno, a Comunidade Vida e Paz conseguiu retirar 100 pessoas da rua em 2011 e proporcionar ajuda institucional a 500 pessoas.

“Temos 230 camas de reabilitação que estão cheias”, disse Celestino Cunha, acrescentando: “Há pessoas que vão reincidir, voltar atrás mas acreditamos que das 100 pessoas que saíram da rua, cerca de 70, vão consolidar a sua autonomia e sair desta condição.

Celestino Cunha contou que tem notado uma alteração do perfil de quem pede auxílio nas ruas de Lisboa para conseguir sobreviver. Antes, os problemas relacionavam-se com dependências ou doença mental, mas neste momento o desemprego assume uma “relevância importante”. “São pessoas que não estando numa condição de sem tecto estão a passar dificuldades de sobrevivência e recorrem a respostas que são tipicamente orientadas para pessoas sem-abrigo. Essa é a diferença que estamos a sentir”, descreveu.