por Bruno Manteigas, da Agência Lusa Hoje, in Diário de Notícias
A única agência de emprego portuguesa em Londres viu o número de emigrantes portugueses triplicar nos últimos meses, incluindo de pessoas qualificadas dispostas a recomeçar a vida por baixo, afirmou o proprietário.
"Nos últimos três meses tenho tido uma média de 80 a 100 pessoas por dia procurando emprego", revelou Domingos Cabeças à agência Lusa, comparando com uma média anterior de 20 a 30 pessoas.
A maioria dos pedidos, descreveu, são de portugueses sem conhecimentos da língua inglesa e com falta de experiência no tipo de oportunidades que tem, nomeadamente para trabalhar em restaurantes, na limpeza de escritórios ou hotéis ou na construção civil. "Vêm em condições de buscar qualquer coisa para se orientarem ao princípio e depois com o tempo irão melhorar o estado de vida", descreve o responsável da agência Neto.
Contudo, além de o número elevado de pedidos dificultar a colocação, o perfil também não ajuda porque os patrões não querem pessoas que pretendem ficar apenas até arranjarem algo melhor.
"É difícil para pessoas que têm profissão mas que não podem exercer derivado à língua ou derivado a ser o primeiro emprego aqui e é aí que temos dificuldade de colocar essas pessoas porque não têm experiencia para as nossas vagas", justificou.
O estabelecimento só abre às 09:00 mas as filas começam a formar-se mais cedo e a sala enche-se rapidamente. A espera pode ser longa e sem garantias de sucesso.
Rui Oliveira, de 41 anos, chegou a Londres há apenas duas semanas para "tentar uma vida melhor", depois de mais de um ano no desemprego em Portugal.
"Tinha cá um amigo e o amigo deu-me a mão e eu vou tentar agarrar esta oportunidade com unhas e dentes", afirmou à Lusa.
Para já está impressionado com a eficiência britânica, que em duas semanas já lhe garantiu inscrição na segurança social, obrigatória para poder trabalhar no Reino Unido, e uma conta bancária.
"Em termos de trabalho não tenho nada mas espero que mais dia menos dia as coisas andem para a frente", admitiu, disposto a "começar por algum lado".
Rui Oliveira, que vivia na Póvoa de Santa Iria, "sabia que tinha de começar por baixo" mas está confiante e pretende criar condições para trazer a mulher e os filhos.
"É começar por baixo para acabar lá em cima", garante.
Também Manuel Carvalho, 50 anos, natural da Póvoa de Varzim, chegou a terras britânicas com ambições.
Para trás largou o próprio restaurante cujo funcionamento diz ter deixado de ser rentável, devido ao aumento do IVA, e fez a malas com a mulher Julieta, cozinheira experiente.
O principal objetivo foi "mudar, ir um bocadinho para o estrangeiro, uma aventura", contou à Lusa, antes de revelar um sonho.
"A ideia primordial que tínhamos era de trabalhar no palácio de Buckingham, o sítio onde trabalha a rainha de Inglaterra", confessa, aproveitando para mostrar alguns conhecimentos da língua local.
Mais pragmática, Julieta Carvalho reconhece que "não é fácil as pessoas emigrarem para aqui".