por Lusa, publicado por Ana Meireles, in Diário de Notícias
A UNICEF coloca Portugal no 15.º lugar numa lista de 29 países ricos analisados com o objetivo de medir o bem-estar infantil na primeira década do século, período que não reflete a austeridade imposta pela crise.
Os resultados constam do estudo 'Report Card 11' da instituição das Nações Unidas (ONU) dedicada às crianças e vai ser apresentado hoje em Dublin como o resultado de uma comparação dos indicadores alcançados entre as 29 economias mais avançadas do mundo em termos de medidas tomadas para garantir o bem-estar das crianças, tendo em conta cinco fatores: bem-estar material, saúde e segurança, educação, comportamentos e riscos, habitação e meio ambiente.
O estudo coloca Portugal no 15.º lugar entre os 29 países analisados, numa lista liderada pela Holanda e encerrada pela Roménia, e a pior classificação que obtém diz respeito à dimensão material do bem-estar das crianças, na qual se posiciona na 21.ª posição.
O lugar de Portugal está no mesmo patamar de Espanha (19.ª), Itália (22.º) e Grécia (25.º), países igualmente em processos de ajustamento financeiro e alvo de medidas de forte austeridade.
No entanto, ressalva a UNICEF, por dificuldade em obter dados atualizados, o estudo compara dados referentes a 2010, ou seja, reportam-se a um período anterior à fase mais dura da crise financeira internacional, o que leva a organização a ressalvar que "não estão refletidas neste estudo as consequências da austeridades que, especialmente no sul da Europa, como Portugal, têm marcado fortemente os últimos três anos".
Ainda assim, a organização frisa que os dados refletem tendências resultantes de investimentos a longo-prazo, e que "é pouco provável" que essas mesmas tendências "mudem de forma significativa a curto-prazo" por influência da recessão.
Para tentar compreender melhor o impacto da crise nas crianças portuguesas, a delegação lusa da UNICEF está a promover um estudo, que deverá ser divulgado no início do outono e que está a ser realizado por um grupo de investigadores do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Em análise estão indicadores relativos à situação das crianças na sociedade portuguesa, as políticas públicas e o seu impacto nos mais novos e nas famílias com filhos. Há ainda espaço para a opinião das crianças, recolhida através de entrevistas a crianças e adolescentes de todo o país.
Na análise aos países mais ricos, uma das conclusões do estudo é a de que a proteção do bem-estar das crianças não é diretamente proporcional ao PIB (Produto Interno Bruto) 'per capita', dando-se como exemplo que Portugal ocupa uma posição mais cimeira do que os Estados Unidos (26.º), e que a Eslovénia (12.º) está mais bem classificada do que o Canadá (17º).
A UNICEF refere também uma "melhoria generalizada" em alguns indicadores concretos, destacando que se reduziu "a mortalidade infantil e a percentagem de famílias com baixo poder de compra, ao mesmo tempo que a taxa de matrícula em graus de ensino secundário aumentou".
A agência da ONU destaca também algumas "boas notícias" no que se refere a "comportamentos e riscos" entre os mais jovens.
"Por exemplo, entre as crianças de 11 a 15 anos nos 29 países abrangidos pelo estudo, apenas 8% declaram fumar cigarros pelo menos uma vez por semana, 15% confessam ter-se embriagado pelo menos duas vezes na vida, 99% das raparigas não engravidam durante adolescência, e cerca de dois terços das crianças não foram vítimas de 'bullying' escolar nem participaram em brigas", lê-se no comunicado do relatório.
Pela negativa, a UNICEF destaca que apenas nos Estados Unidos e na Irlanda mais de 25% das crianças praticam exercício físico pelo menos uma hora por dia.