1.10.13

Publicidade ao tabaco influencia crianças dos países mais pobres

Romana Borja-Santos e AFP, in Público on-line

Estudo da universidade norte-americana de Johns Hopkins defende medidas mais restritivas para proteger os mais novos da publicidade e garante que há mais probabilidade de virem a fumar.

As crianças na casa dos cinco ou seis anos que vivem em países mais pobres ou onde existem grandes diferenças de classes, como a Índia ou Brasil, são mais influenciadas pela publicidade das tabaqueiras e correm um risco acrescido de virem a tornarem-se fumadoras, alerta um estudo norte-americano que acaba de ser publicado.

O estudo foi desenvolvido por investigadores da Faculdade de Saúde Pública de Johns Hopkins, em Baltimore (Maryland, EUA), que acompanharam 2423 crianças em seis países, explica a AFP. Da amostra que contemplou crianças da China, Índia, Brasil, Rússia, Nigéria e Paquistão, 68% conhecia pelo menos uma marca de cigarros, uma percentagem que baixava para os 50% na Rússia mas que subia para os 86% na China onde 28% da população é fumadora (53% de homens e 2% de mulheres).

Os investigadores perceberam que as crianças com estas idades que viviam em casas com familiares fumadores reconheciam pelo menos o logotipo de uma marca de tabaco, diz o trabalho publicado na revista científica Pediatrics, citado pela AFP. Por isso, sugerem que as autoridades dos países em causa criem legislação que minimize o impacto da publicidade das tabaqueiras junto das crianças.

Os cientistas citam um estudo feito nos Estados Unidos há 22 anos e que mostrava que as crianças com cerca de seis anos reconheciam com a mesma facilidade o logotipo do canal Disney e de um maço de tabaco. Na altura estes resultados impulsionaram regras antitabagistas mais restritivas para proteger os menores deste tipo de publicidade.

Aliás, os autores do trabalho defendem que a facilidade com que as crianças reconhecem as marcas não é uma consequência natural de viverem com fumadores mas sim o resultado de “sofisticadas tácticas de marketing” que querem passar “mensagens claras que toquem os mais novos”, diz a AFP.

Apesar de reconhecerem que há muitos factores relacionados com o tabagismo, os investigadores da Johns Hopkins sublinham que o convívio com estes produtos e o facto de o associarem a um estilo de vida positivo através da publicidade contribui muito para aumentar a probabilidade de virem a fumar.

Desde 2003 que a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) adoptou uma postura mais activa e restritiva para combater a “epidemia global do tabagismo”, que visava sobretudo limitar a publicidade e promoção do tabaco junto de grupos vulneráveis.

Crianças portuguesas entre as mais expostas ao fumo
Recentemente, em Junho, também foi divulgado um estudo que indicava que as crianças portuguesas estão entre os jovens europeus mais expostos ao fumo de tabaco, principalmente em casa, o que aumenta o risco de algumas doenças, como as respiratórias. Portugal foi um dos 17 países europeus a participar no projecto Democophes, que pretendeu recolher dados acerca da exposição a poluentes e apoiar a definição de medidas políticas e a sua avaliação.

Em Maio a OMS também apelou aos países que proíbam todas as formas de publicidade ao tabaco para reduzir o consumo de uma droga que mata seis milhões de pessoas por ano. O alerta surgiu a propósito do Dia Mundial Sem Tabaco.

Segundo a organização, um terço dos jovens que experimentam fumar fá-lo em resultado da exposição à publicidade, promoção e patrocínios feitos por marcas de tabaco e 78% dos jovens de 13 a 15 anos em todo o mundo dizem estar expostos a alguma forma de propaganda ao tabaco.

A OMS acredita que proibir a publicidade, a promoção e os patrocínios por marcas de tabaco é uma das formas mais eficazes de reduzir o consumo, exemplificando que os países que já introduziram esse tipo de interdição registaram, em média, uma redução de 7% no consumo.

“O uso do tabaco está no topo da lista de ameaças universais à saúde e, no entanto, é completamente evitável”, disse na altura a directora-geral da OMS, Margaret Chan, para quem “os governos devem ter como prioridade máxima impedir a indústria tabaqueira de continuar a vergonhosa manipulação dos jovens e das mulheres, em particular, para recrutar a nova geração de viciados em nicotina”.

O director do departamento da OMS para a prevenção das doenças não transmissíveis, Douglas Bettcher, adiantou que a maioria dos consumidores de tabaco fica dependente antes dos 20 anos de idade. “Proibir a publicidade, a promoção e o patrocínio do tabaco é uma das melhores formas de evitar que os jovens comecem a fumar e de reduzir o consumo na população inteira”, disse.