Sérgio Aníbal, in Público on-line
O crescimento em cadeia do PIB de 13,3% no terceiro trimestre deste ano ficou ainda longe de compensar as perdas recorde registadas na primeira metade do ano
Feitas as contas à queda a pique registada a partir de Maio e à recuperação de parte da actividade durante o terceiro trimestre, a economia portuguesa é uma das que na União Europeia está neste momento mais longe de regressar aos níveis anteriores à pandemia.
A segunda estimativa para os valores do PIB do terceiro trimestre de 2020 publicada esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística e pela maior parte das outras autoridades estatísticas europeias veio confirmar para todos os países da UE aquilo que já tinha sido avançado há 15 dias: depois de fortes quedas no primeiro e segundo trimestres do ano, as economias começaram a recuperar no terceiro trimestre, mas não com a força suficiente para regressar imediatamente aos níveis em que se encontravam antes da pandemia.
E, neste capítulo, mostram os números agora revelados, Portugal é para já um dos que mais deixou por recuperar. De acordo com os dados do INE, depois de uma diminuição do PIB de 4% logo no primeiro trimestre e de uma queda recorde de 13,9% no segundo, a economia portuguesa cresceu 13,3% no período entre Julho e Setembro.
Isto significa que, no terceiro trimestre deste ano, o valor do PIB português ainda foi 6,4% menor do que no quarto trimestre de 2019, o último em que não se sentiu qualquer efeito da pandemia na actividade económica (os efeitos começaram a ser sentidos a partir de Março de 2020).
Este diferencial de 6,4% que ainda há por superar é, entre os 20 países da União Europeia para os quais já há informações do PIB para o terceiro trimestre, o terceiro maior. Apenas em Espanha, com uma perda de 9,1%, e na Roménia, de 7,3%, o impacto negativo da pandemia na actividade económica foi maior.
Esse facto também é visível na variação homóloga do PIB (terceiro trimestre de 2020 face ao terceiro trimestre de 2019), que em Portugal foi de -5,7%, o quarto valor mais negativo, apenas melhor que a Espanha, Roménia e República Checa.
No total da zona euro, que no terceiro trimestre cresceu 12,6%, o PIB encontra-se agora 4,4% abaixo do nível anterior à pandemia. E os países que se encontram mais próximos do PIB pré-crise são a Polónia, Lituânia Eslováquia Holanda, todos com diferenças situadas entre 2% e 3%.
Isto significa que Portugal, apesar de até ter sido o quarto país da UE com um crescimento em cadeia mais alto no terceiro trimestre (atrás de Espanha, Itália e França), está a revelar especiais dificuldades em compensar uma parte significativa das perdas acumuladas na primeira metade do ano.
O peso que o sector do turismo tem na economia e o espaço de manobra relativamente reduzido para aplicar uma política orçamental mais expansionista são explicações possíveis para este resultado, tendo sido já avançadas pela Comissão Europeia quando, na semana passada, Portugal no grupo de nove países da zona euro que “não vão conseguir regressar em 2022 ao nível em que se encontravam em 2019”.
Exportações mais de 15% abaixo
Na segunda estimativa rápida das contas nacionais publicada esta sexta-feira pelo INE, são ainda apresentados mais detalhes sobre o comportamento das diversas componentes do PIB. Tanto ao nível da procura externa (exportações menos importações) como da procura interna (consumo e investimento privados e públicos), a tendência foi a mesma: depois da queda abrupta dos meses anteriores, registou-se uma recuperação no terceiro trimestre à medida que as medidas do confinamento foram sendo aliviadas, mas a retoma não foi o suficiente para se regressar aos níveis do passado.
No caso das exportações, aquilo que aconteceu foi que, depois de quedas de 6,7% e de 37% nos primeiros e segundo trimestres, registou-se no terceiro trimestre um crescimento de 38,8%. Isso não chega no entanto para ficar perto dos níveis pré-pandemia. Comparando com o valor das exportações no período homólogo, a queda das exportações é ainda de 15,2% e relativamente ao quarto trimestre de 2019 (o último sem os efeitos da pandemia) a perda registada é de 18,4%.
Esta dificuldade das exportações regressarem ao nível do passado sente-se sobretudo ao nível dos serviços, sinaliza o INE, que diz que a recuperação do terceiro trimestre acontece “devido em grande medida à evolução das exportações de bens, uma vez que as de serviços mantiveram reduções expressivas”. Entre as exportações de serviços encontram-se as relacionadas com o sector do turismo para não residentes, um dos mais persistentemente afectados durante a presente crise.
A evolução das exportações tem sido mais negativa que a das importações, onde a variação homóloga se situa agora em -11,6%, o que significa que o contributo da procura externa para a evolução do PIB está a ser negativo.
Do lado da procura interna, depois de quedas de 1,8% e de 10,8% nos primeiro e segundo trimestres, registou-se no terceiro trimestre um crescimento de 10,1%, o que significa que se continua a um nível 4,1% abaixo do registado em igual período do ano anterior. O INE não divulga ainda dados relativos à evolução do consumo privado, investimento e consumo público, algo que apenas acontecerá no próximo dia 30 de Novembro.