Tiago Varzim, in EcoOnline
Os indicadores de curto prazo desenvolvidos pela OCDE e o Banco de Portugal para a crise pandémica mostram uma nova quebra da economia portuguesa em janeiro por causa do confinamento.
Com o confinamento que arrancou em janeiro a atividade económica do país voltará a sofrer um tombo, mas os economistas antecipam que a queda será inferior à do confinamento do ano passado. Ainda que o valor final só se seja conhecido em maio quando for revelado o PIB do primeiro trimestre, já é possível ter uma primeira medição do choque das restrições na economia portuguesa no início de 2021 recorrendo aos novos indicadores mais reativos que foram desenvolvidos para medir o pulso à crise pandémica.
Esse é o caso dos indicadores da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e do Banco de Portugal. No caso do “tracker” semanal da OCDE (ver gráfico abaixo), o nível de atividade económica em Portugal caiu em janeiro (cerca de -13%), perto do nível registado em junho mas ainda longe dos piores registos de abril de 2020 (entre -20 a -30%). O mais curioso do gráfico da Organização é uma possível inversão da curva, mostrando uma subida nos últimos dias, mas é preciso recordar que estes indicadores são muito sensíveis.
“Tracker” da OCDE a 28 de janeiro.
Comentando uma versão anterior do gráfico, a 27 de janeiro, o diretor do departamento de estudos económicos da OCDE e ex-ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, escrevia no Twitter que “as mais recentes restrições contra a pandemia já começaram a ter um impacto negativo na economia”. “O impacto das novas restrições é menor do que na primavera de 2020, mas é ainda muito significativo“, assinalava.
O indicador de alta frequência da OCDE utiliza machine learning (algoritmos) e dados do Google Trends (tendências de pesquisa do Google sobre consumo, emprego, imobiliário, incerteza económica, entre outros) para aferir a variação do PIB em tempo real. A organização assegura que este tracker é “particularmente bem adaptado a captar a atividade durante um período turbulento” como o da pandemia. No gráfico é possível ver também gradações de cinzento para descrever a restritividade das medidas em vigor em cada país com base no índice Blavatnik da Universidade de Oxford.
A tendência identificada pelo indicador da OCDE foi captada também pelo novo indicador do Banco de Portugal. O indicador diário de atividade económica — que será atualizado uma vez por semana — do banco central divulgado esta quinta-feira mostra uma “deterioração marcada” da atividade económica por causa do confinamento restritivo.
Este indicador junta vários dados com frequência diária como é o caso do tráfego rodoviário de veículos comerciais pesados nas autoestradas, do consumo de eletricidade e de gás natural, da carga e correio desembarcados nos aeroportos nacionais e das compras efetuadas com cartões em Portugal por residentes e não residentes.
“Após o início do confinamento decretado a 15 de janeiro, o indicador diário de atividade económica (DEI) aponta para uma deterioração marcada durante a semana passada“, escreveu o Banco de Portugal, mostrando um gráfico deste indicador com valores desde janeiro de 2020, o que permite comparar o impacto deste confinamento com o de março e abril do ano passado. A conclusão a tirar é semelhante à do gráfico da OCDE.
Para já, os dados disponíveis ainda são escassos para se tirar grandes conclusões. Em entrevista à RTP1, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, referiu, ainda assim, a evolução de dois dados para argumentar que a situação é, até agora, “mista”.
Por um lado, as compras e os levantamentos da rede multibanco registaram uma queda “muito significativa” nos primeiros dias do novo confinamento de janeiro, com uma queda acima de 20% (superior à de novembro). Ainda assim, está longe da quebra de 40% registada em abril por causa do primeiro confinamento.
Por outro lado, o consumo de energia corrigido de temperatura (Portugal passou por uma vaga de frio no início do mês) apresenta uma variação “praticamente nula”, de acordo com os dados citados por Centeno. Para o governador do banco central ainda é “cedo” para falar numa nova recessão em Portugal no primeiro trimestre deste ano e, ainda mais, para se antecipar uma contração da economia semelhante à do segundo trimestre de 2020.
“A economia tem reagido às sucessivas vagas de pandemia de forma — e vou usar um termo estranho em crise pandémica — bastante positiva“, afirmou Centeno, ex-ministro das Finanças, destacando o aumento da “capacidade de adaptação que as economias têm tido a laborar nestas dificuldades”. O economista notou que “em todos os momentos de desconfinamento, a reação da economia foi automática e foi muito forte”, argumentando que para tal ajudou o facto dos apoios monetários e orçamentais terem sido “muito eficazes”.