Pedro Sousa, in Correio do Minho
O Governo da República, liderado por Pedro Passos Coelho, completou no passado dia 21 de Fevereiro, oito meses de mandato.
Este Governo é, sem sombra de dúvidas, o mais liberal desde o 25 de Abril de 1974. Assim, dizer que a matriz ideológica e sociológica de Passos Coelho e deste Governo são diametralmente opostas à minha e, naturalmente, à do Partido Socialista, é uma conclusão natural.
Passos Coelho acredita cegamente que o mercado se auto regula (triste incapacidade de não aprender com a lição da crise de 2008 que ainda hoje perdura), que as empresas são a única parte importante na criação e valorização do emprego, que o Estado não deve estar presente na economia, na saúde e em tantas outras áreas em que a acção do Estado é decisiva para a construção de um país de oportunidades.
Passos Coelho, acredita, ainda, que a austeridade cega, injusta, não acompanhada de estímulos à economia e à criação de emprego é suficiente para recolocar as contas públicas em ordem e pôr, novamente, a economia portuguesa numa trajetória de crescimento.
O Partido Socialista tem vindo a afirmar, desde há longos me-ses, que a opção do Governo de somar austeridade à austeridade, de não garantir acesso ao crédito às PME’s, de não ter uma estratégia para a criação de emprego, nomeadamente, nas empresas com ampla vocação exportadora, levaria, apenas e só, ao aumento da economia paralela e consequente diminuição das receitas fiscais a arrecadar pelo Estado, à contração do consumo e ao natural aumento do desemprego.
O actual Governo, no seu estilo austero, pedante e convencido das suas verdades absolutas, disse que não aconteceria assim e que Portugal ao recolocar em ordem as suas contas públicas, assistiria, como por artes mágicas, a um aumento gigante da confiança, a um aument o do consumo e à descida, natural, do desemprego.
O Primeiro-Ministro tem persistido, resistido e avançado no seu caminho, enquanto afirma que os dados da última avaliação da 'troika' à execução do Programa de Assistência Económica e Financeira aplicado a Portugal permitem acreditar que o “produto potencial” da economia portuguesa “pode aumentar muito rapidamente”.
Infelizmente, para todos, para os Portugueses, a economia real, o País real encarregaram-se, muito rapidamente, de desmentir Pedro Passos Coelho. As previsões do Governo para este ano passavam por uma quebra da economia de 2,2% mas, neste momento, as previsões já vão em 3,3 por cento. O mesmo está a acontecer na Europa onde há seis meses se perspectivava crescimento económico para a Zona Euro, ainda que ténue, e onde hoje já se perspectiva recessão para o ano de 2012.
Tudo isto comprova que a receita Merkozy, seguida cega e acriticamente pelo Governo de Portugal se apresta a agravar todos os problemas que Portugal enfrentava há oito meses atrás.
O desemprego atingiu o inacreditável valor de 14,8%. O Governo não assume que estes números são, em grande medida, resultado da sua política de austeridade desmesurada, da ausência de uma estratégia para o crescimento económico e do custe o custar.
Pois, este é o Governo, e este é o Primeiro-Ministro, que, custe o que custar, prefere a destruição do tecido produtivo, o aumento do desemprego, a assumir que errou na estratégia que está a seguir.
Oito meses depois, é este o País que temos.
Um País que está, sem sombra de dúvidas, pior do que estava aquando do início da actual legislatura. Com mais desemprego, com mais recessão, com menor igualdade de oportunidades e, por isso, com menos esperança no seu futuro.