27.4.12

Deco recebe 15 pedidos por dia de famílias aflitas com dívidas

Liliana Coelho, in Expresso.pt O número de processos de sobreendividamento atingiu os 1376 só no primeiro trimestre do ano. A DECO alerta para os sinais de alarme. Cerca de 80% do crédito que tem sido contratado pelas famílias portuguesas é destinado à habitação Os pedidos de ajuda à Associação de Defesa do Consumidor (DECO) continuam a aumentar. Só nos primeiros três meses do ano, a DECO contabilizou 1376 processos de sobreendividamento. "No ano 2000, quando começámos este projeto demos entrada de 152 processos. No ano passado foram registados 4288 processos", disse ao Expresso Natália Nunes, coordenadora do apoio ao sobre-endividado da DECO. De qualquer forma, sublinha a responsável, este número de processos não reflete de modo algum o número de famílias que estão em situação de dificuldade, uma vez que no ano passado, foram mais de 23 mil famílias que pediram ajuda. Famílias são da classe média Em 12 anos alterou-se significativamente o perfil das famílias em dificuldades. Atualmente, os agregados são compostos em média por três elementos, com rendimentos superiores aos 1500 euros mensais, enquanto em 2000, a maioria das famílias auferia rendimentos inferiores a 1000 euros mensais. Na maioria das vezes há cinco ou mais créditos, um crédito à habitação, um automóvel e vários créditos pessoais e todos eles quando chegam à DECO já estão numa situação de incumprimento. Também as causas que levam as famílias e enfrentarem dificuldades se alteraram. O principal fator continua a ser o desemprego, mas ao invés das situações doença e de divórcio, assiste-se cada vez mais a casos relacionados com o mercado de trabalho, como o cortes salariais. "As pessoas foram confrontadas com reduções no rendimento, porque não lhes estão a ser pagas as comissões ou as horas extraordinárias, e estas são as principais causas que hoje estão a levar as pessoas a uma situação de dificuldade", explica Natália Nunes. Segundos os dados do Banco de Portugal (BdP), a maioria do endividamento das famílias portuguesas deve-se essencialmente, nos últimos anos, ao crédito à habitação. Cerca de 80% do crédito que tem sido contratado pelas famílias portuguesas é destinado à aquisição de habitação e só 20% diz respeito ao crédito pessoal, onde se inclui em primeiro lugar o crédito concedido para a compra de automóvel. Concessão de crédito ilimitada Para a especialista, um dos principais erros por parte das instituições financeiras foi a concessão ilimitada de crédito, sem ter em atenção a taxa de esforço dos clientes. "Há fatores que são alheios aos consumidores e que muitas vezes também contribuem para esta situação, como o facto de durante anos se ter concedido crédito sem ter em conta a taxa de esforço dos consumidores, isto por parte das entidades credoras", acrescenta. A maioria das dívidas são, sobretudo, à banca e às sociedades financeiras. embora a situação também se comece a alterar. "Aquilo que nós estamos a verificar é que muitas famílias de classe média nos estão a pedir para ajuda para a renegociação de outro tipo de dívidas, como telemóveis, televisão por cabo, ou mesmo eletricidade, gás e água". Agir nos primeiros sinais Questionada sobre os principais sinais de alerta, a coordenadora do apoio ao sobre-endividado da DECO, sublinhou que é preciso agir rápido. "Eu diria que uma família mal tenha a perceção, depois de calcular o seu orçamento familiar e conhecendo a sua situação económica, de que vai ter dificuldade de honrar os seus compromissos, deve entrar imediatamente em contacto com os credores, sejam bancos ou sociedades financeiras e claro que devem olhar também para o seu orçamento e analisar de forma crítica onde deve reduzir algumas das suas despesas". No que diz respeito à tarefa da DECO, "aquilo que nós ajudamos é em 1º lugar ajudar a família a calcular o eu orçamento familiar e depois olhar para esse orçamento e ver se a família tem disponibilidade para apresentar algum plano de pagamento às entidades credoras e se houver, essa disponibilidade ajudamos a família a elaborar esse plano de pagamentos, apresentando-o depois às instituições de crédito", concluiu.