29.4.12

Es.Col.A é "reivindicação de cidadania"

in Diário de Notícias

O projeto Es.Col.A, que não é uma forma de cultura "punk" nem um movimento "okupa" tradicional, representa uma nova dinâmica de "reivindicação alargada de cidadania" que poderá inverter a "resignação fatalista" dos portugueses, defendem dois especialistas.

"Estes jovens acham que existem outras saídas que não a resignação ao fatalismo que perpassa a sociedade portuguesa. Estão a dar um sinal de que já basta. Isto é importante para que outras situações de luta coletiva floresçam", explicou hoje à Lusa Carlos Silva, presidente da Associação Portuguesa de Sociologia.

Para a investigadora Paula Guerra, o Es.Col.A "enquadra-se nos novos movimentos sociais de reivindicação mais alargada da cidadania" e constitui um sintoma "do agudizar da fragilidade social" do país, podendo repetir-se e alterar a postura dos portugueses.

"Portugal tem muito pouca tradição de participação social. Este tipo de dinâmicas vão inverter essa postura", alerta a docente da Universidade do Porto.

Paula Guerra não duvida ser "inevitável que a situação se replique noutros locais", por vários motivos: o "contágio mediático" do caso nas redes sociais, a "situação social complexa" de Portugal e o facto de terem sido "importados do exterior" alguns ideais, como o de que "é possível fazer cidade pelas próprias mãos".

Milhares de pessoas, entre ativistas do Es.Col.A e participantes nas comemorações do 25 de Abril, ocuparam na quarta-feira a escola da

A docente duvida que o Es.Col.A seja "uma manifestação 'okupa' no sentido tradicional do termo" ou que exista "apenas uma ligação à cultura punk", considerando que se trata de um "novo movimento social".

Para Carlos Silva, pode haver no movimento alguma "ligação" dos "okupas" a "jovens qualificados ou não, que pretendem ser sujeitos ativos para mostrar as suas competências e reivindicar os seus direitos".

O diretor do Centro de Investigação em Ciências Sociais da Universidade do Minho afirma que o movimento pode também "ser uma forma de confronto com os poderes estabelecidos" e de "questionar os modelos de organização política existentes".

No entanto, "ou estes movimentos encontram formas de se organizar ou o resultado pode ser o desencanto", observa.

"Para terem eficácia, não podem prescindir de uma utopia e de uma liderança", recomenda o especialista, sugerindo que não estejam "apenas contra" e encontrem "pontes com os partidos, com outros movimentos sociais e com os sindicatos".

"Os sindicatos têm de ser mais abertos aos jovens, mas estes jovens também devem ter essa abertura, de forma a engrossar a contestação. De outra forma, o que temos são gritos isolados", conclui.

O Es.Col.A - Espaço Colectivo Autogestionado do Alto da

O movimento foi despejado no dia 19, por ordem da Câmara Municipal do Porto, perante a "incompreensível recusa do grupo em aceitar as condições exigidas por lei", nomeadamente a formalização do contrato de cedência (até fim de junho) e o pagamento de uma renda de 30 euros.

Na quinta-feira, funcionários da autarquia entaiparam as entradas do local para impedir a reocupação das instalações.