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Dramas pessoais decorrentes da atual crise, como o desemprego, estão a provocar um aumento das doenças psiquiátricas em Portugal, sobretudo da depressão, que "é um fator de risco do suicídio", alertaram hoje especialistas.
Os responsáveis falaram à Lusa a propósito do 2.º congresso da Associação Psiquiátrica Alentejana (APA), que vai decorrer em Serpa entre quinta-feira e sábado para debater temas como a psiquiatria na crise e o suicídio no Alentejo.
"Tem havido, há cerca de um ano e meio/dois anos, um aumento grande de toda a problemática psiquiátrica ligada à crise", disse à agência Lusa o presidente da APA, António José Albuquerque.
Segundo o psiquiatra, a crise, que está a provocar situações graves" como o desemprego, faz-se sentir mais na patologia da depressão, que "é um fator de risco do suicídio".
Por isso, frisou, "a brutal ameaça do suicídio está a atemorizar bastante" os psiquiatras, nomeadamente no Alentejo, "particularmente" afetado pelo problema.
Devido a "dramas pessoais" decorrentes da conjuntura, como a incapacidade de pagar a prestação da casa e estudos dos filhos, "as doenças mentais aumentam brutalmente", sobretudo a depressão, disse à Lusa o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, Mário Jorge Santos.
A atual crise "tem como pior resultado o desemprego", "um fator de risco muito importante para a doença mental, principalmente para a depressão", que, por sua vez, "é um fator de risco para o suicídio", frisou Mário Jorge Santos, também membro fundador da Sociedade Portuguesa de Suicidologia.
"Quase não há desemprego sem depressão" e "quase ninguém" perde a casa ou deixa de pagar estudos aos filhos sem depressão e estes são "fenómenos que estão a acontecer em Portugal", e "muito acima do esperado", disse.
O desemprego é o principal fator que leva à depressão e ao suicídio e, neste caso, "a crise grega ensina muito, porque o suicídio na Grécia quintuplicou", frisou.
Segundo Mário Jorge Santos, em Portugal, com a crise, além dos idosos que vivem isolados em zonas rurais e da população urbana com depressão, sobretudo jovens, começam a aparecer novos grupos de risco de suicídio: os desempregados e as pessoas que perderam a casa.
O risco de suicídio "será muito mais grave nas zonas urbanas", ou seja, o suicídio entre os idosos nas zonas rurais vai manter-se nos "níveis habituais" e o suicídio urbano e o relacionado com o desemprego e a crise vão "aumentar em todo o país e o Alentejo não será exceção", alertou.
Neste sentido, admitiu, o Alentejo poderá deixar de ser a região com a mais elevada taxa de suicídio, mas "pelos piores motivos", ou seja, não por a taxa da região baixar, mas por as taxas das outras regiões subirem, sobretudo nos grandes centros urbanos, nomeadamente Lisboa e Porto.
Além do papel da psiquiatria, que trata os doentes, é necessário políticas de saúde e outras que "transcendem" esta área, frisou, defendendo que, atualmente, "a prioridade no combate à depressão é a criação de políticas ativas de emprego".
"Os tempos que aí vêm vão ser muito difíceis, porque não há dinheiro e as políticas necessitam de dinheiro. As pessoas estão a empobrecer e as instituições que as podem ajudar estão a ficar sem dinheiro", alertou.