31.5.12

Tratado orçamental é "um desastre completo"

in Diário de Notícias

Silva Lopes foi governador do Banco de Portugal Fotografia © Rodrigo Cabrita - Global ImagensO economista Silva Lopes disse que ficou "pasmado" por Passos Coelho ter alinhado com a "senhora Merkel" na recente cimeira europeia, contra aqueles que defendem uma aposta maior no crescimento económico.

"É preciso por um travão nisto, não podemos continuar desta maneira", insistindo apenas na austeridade, referiu durante uma conferência sobre o tema "Portugal e as crises económicas", promovida quarta-feira à noite pela Câmara Municipal do Porto.

Silva Lopes considerou que o tratado orçamental aprovado para os países da zona euro é uma "ideia sinistra" e vai ser "um desastre completo".

"Se os alemães não mudarem de política estamos arrumados", realçou, tendo depois desejado que François Hollande, o recém-eleito presidente francês, consiga "mudar" esta política.

Para este antigo governador do Banco de Portugal (1975-1980), "esta coisa de querer resolver os problemas da União Europeia (EU) só com austeridade não vai ser possível".

O economista defendeu que "a Grécia não aguenta" caso se mantenham as políticas orçamentais restritas que a UE, BCE e FMI lhe impuseram em troca de ajuda financeira.

"Aliás, tenho dúvidas que a própria União Europeia possa persistir durante muitos anos se não mudar as regras", afirmou também ao considerar que "querer resolver os problemas da UE só com austeridade não vai ser possível".

Questionado sobre o impacto que a eventual da saída Grécia da UE teria em Portugal, Silva Lopes respondeu: "Depende, mais uma vez, do que a UE fizer".

"Fala-se muito que a UE tem uma barreira de proteção para os países onde se espera que não haja crise e não se percebe muito bem se Portugal está dentro ou fora dela. Acho que a UE está muito preocupada que a barreira abranja a Espanha e a Itália, porque são duas economias grandes" e a sua saída causaria "grandes problemas", declarou.

Em seu entender também, Portugal dificilmente regressará aos mercados em setembro de 2013, ao contrário do que disse o ministro das Finanças, Vítor Gaspar.

"O governo anda a apregoar que cumpre o programa" negociado com a "troika" internacional, mas "a gente não viu ainda nos mercados nenhum alívio em relação a Portugal".

Silva Lopes reafirmou que é sua convicção desde que foi conhecido o montante da ajuda financeira a Portugal (78 mil milhões de euros) que "a gente precisava de mais dinheiro do que aquele que eles nos deram".

"Espero que o deem, mas nunca se sabe. Compreendo que o Governo não ande já a pedir mais dinheiro à UE, é um bocado cedo de mais para isso, mas provavelmente lá para o outono é capaz de ser necessário, porque não acredito que os mercados se abram", sustentou.

A sua opinião é que Portugal "não aguenta" juros tão altos.

Outra convicção sua é a de que "em 2013 ainda vamos ter crescimento negativo e o desemprego também tenderá a subir, pelo menos na primeira parte do ano".

"Não vale a pena a gente estar com coisas", pois só há "uma maneira" de combater o desemprego, que é "crescer mais" e para isso, defendeu, "é preciso que nos emprestem mais dinheiro para que a gente não tenha uma austeridade tão grande e é preciso que as exportações aumentem mais".