24.5.12

Economia portuguesa perdeu 54 mil empresas num ano

por João Madeira, in Sol

Se dúvidas houvesse quanto à dimensão do ajustamento da economia portuguesa nos últimos anos, os quadros de pessoal das empresas portuguesas divulgadas no início do mês, pelo Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP), não deixam lugar para dúvidas. Em 2010, Portugal perdeu 54 mil empresas, cerca de 16% do tecido empresarial do país. A maior parte foram empresas de pequena dimensão, com menos de nove trabalhadores.

Os quadros de pessoal são compilados anualmente pelo organismo tutelado pelo Ministério da Solidariedade e Segurança Social. Embora sejam publicados com algum desfasamento temporal, tratam-se de uma das bases de dados mais fiáveis do país, uma vez que são as informações reportadas ao Estado pelas empresas, em cada ano.

E os dados de 2010 já indicavam uma deterioração da economia. O número de empresas diminuiu sobretudo devido ao encerramento de pequenos estabelecimentos. O número de empresas com menos de nove trabalhadores – que representavam naquele ano cerca de 85% do total de empresas – recuou 17,2%, passando de 288 mil para 238 mil empresas.

Perda de empregos

Os quadros de pessoal mostram também um forte ajustamento a nível de mercado de trabalho. Segundo as informações das empresas, entre 2009 e 2010 foram suprimidos 220 mil postos de trabalho, em toda a economia (uma queda de 7,3%).

Em termos de sectores de actividade, o fecho de empresas foi significativo no imobiliário, na construção e na indústria. Todas as regiões registaram uma diminuição do número de empresas e pessoas ao serviço, mas as maiores descida ocorreram no Algarve e em Lisboa.

Os dados da Segurança Social dão também um retrato mais completo sobre o perfil do trabalho em Portugal. Em 2010, a remuneração base média dos trabalhadores situou-se em 900 euros, uma subida de 3,4% face a 2009. Se a este valor se somarem as remunerações acessórias e variáveis, a remuneração mensal média total sobe para 1076 euros.

Homens ganham mais

Os quadros de pessoal divulgados pelo GEP mostram também a subsistência de desigualdades de género em Portugal. Os homens continuam a auferir valores acima das mulheres: mais 22% nos salários-base e mais 26% se o indicador for a remuneração total.

Desemprego recorde

A maioria dos trabalhadores por conta de outrem encontra-se entre os 25 e os 44 anos (59,8% do total). Por tipo de contrato, 74,5% dos trabalhadores encontravam-se vinculados com um contrato sem termo, e 21,7% estava a termo.

Os trabalhadores com uma permanência na mesma empresa superior a dez anos representavam 28,2 % dos postos de trabalho. Destes, 9,7 %, têm uma antiguidade superior a 20 anos.

Esta semana, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou os números do desemprego no primeiro trimestre. A taxa disparou para 14,9%, o maior valor de sempre, com 819 mil trabalhadores no desemprego (mais 48,3 mil pessoas que no final de 2011).

Na faixa etária mais baixa, as dificuldades no mercado de trabalho são ainda mais significativas. A taxa de desemprego entre jovens dos 15 aos 24 anos chegou aos 36,2%, um aumento de 8,4 pontos percentuais relativamente ao mesmo período do ano anterior.

Críticas à austeridade

Os números do desemprego desencadearam reacções de diversos quadrantes políticos. O ministro da Solidariedade e Segurança Social, Pedro Mota Soares, admitiu que «o desemprego é o maior problema que Portugal está a atravessar, e nesse sentido é o maior problema para o Governo».

Na oposição, multiplicaram-se as críticas à actuação do governo e às opções de austeridade. O deputado socialista Miguel Laranjeiro descreveu os dados como «dramáticos». Os 820 mil desempregados em Portugal são, para este dirigente, «o resultado da política do Governo do custe o que custar».