3.12.12

"Quis dizer que não quero em Portugal o que vi na Grécia"

por Rita Carvalho, in Diário de Notícias

Em entrevista ao DN, a Presidente da Federação Portuguesa de Bancos Alimentares contra a Fome, Isabel Jonet, afirma que as suas declarações foram mal interpretadas.

As suas polémicas afirmações sobre a pobreza, proferidas na televisão há três semanas, ainda não parecem ter sido esquecidas por muitos portugueses. Teme que isso venha afetar a campanha de recolha alimentar que decorre durante este fim de semana nos supermercados de todo o País?

Penso que os portugueses não vão perder de vista o essencial. E o que é realmente importante é acudir às necessidades de quem mais precisa. Algo que tem sido feito por vinte bancos alimentares contra a fome em todo o País, que apoiam 373 mil pessoas através de 2373 instituições.

Uma das coisas de que foi acusada nas redes sociais foi de instrumentalizar a pobreza como arma política e de a ação dos bancos, "alimentar a pobreza de milhares de portugueses", através da "caridadezinha"...

Só diz isso quem não conhece minimamente o funcionamento dos bancos e não percebe que a alimentação é um bem básico. Atuamos ao nível da sobrevivência. Não se criam dependências quando se está a apoiar a sobrevivência, pois as pessoas precisam de comer todos os dias. Nós apenas recolhemos alimentos para que as instituições que estão no terreno possam distribui-los e fazer melhor o seu trabalho, que é a lutar contra a pobreza, promovendo a autonomia das pessoas. O nosso interesse é recolher mais para que elas possam dar mais. Se quiséssemos contribuir para prolongar situações de pobreza, dávamos diretamente a comida às pessoas e não se fazia mais nada.

O que quis dizer quando comparou a situação da Grécia com a portuguesa?

Que não quero ver em Portugal o que vi na Grécia, onde estamos (enquanto presidente da Federação Europeia de Banco Alimentares) a montar uma estrutura. Ou seja, farmácias onde não há medicamentos para doentes crónicos ou imigrantes que vêm das ilhas onde passam fome.