1.4.14

Um ano na vida de cinco desempregados

por Sandra Afonso, in RR

A Renascença vai acompanhar ao longo de 2014 cinco pessoas, cinco histórias, unidas pela mesma realidade: o desemprego.

A recuperação económica começa a surgir nos números oficiais, mas ainda não entrou na casa dos mais de 700 mil portugueses inscritos nos centros de emprego. A Renascença traz-lhe algumas destas histórias, as vidas escondidas pelas estatísticas.

Cinco experiências profissionais diferentes, que em comum têm a condição de desempregados. Casos que a Renascença vai acompanhar ao longo de 2014, um ano que será marcado pelo fim do resgate, resta saber se será também o fim da crise para algumas destas famílias.

Joana é um dos mais de 700 mil nomes inscritos nos centros de emprego. Durante dez anos trabalhou na área administrativa, agora, sete meses depois de perder o emprego e sem conseguir abrir outra porta, já procura “qualquer coisa, em qualquer área”.

Já Maria, formada em Psicologia Educacional e desempregada desde Agosto de 2011, só no último ano cedeu à pressão do tempo e do dinheiro e acabou por alargar os critérios de procura. Não põe de lado a área de formação, apesar de estar a concorrer directamente com “quatro mil ou mais desempregados”, mas olha agora para “caminhos paralelos, como cuidar de idosos ou tomar conta de animais”.

Maria já depende do subsídio há quase três anos, apoio que termina no final de Junho. Depois desta data tem um grande ponto de interrogação: “não sei se terei direito a algum subsequente, se terei direito a subsídio social, por exemplo.” Diz ser vítima das novas políticas, que encerraram o centro de Novas Oportunidades onde estava colocada.

Pedro tem a vida toda pela frente e não deixa que seis meses no desemprego o desanimem. A barba está por fazer, mas o tempo livre não é desperdiçado, antes pelo contrário, aproveita para melhorar o currículo enquanto procura saídas profissionais na área de formação, desporto e gestão desportiva. Admite que “é uma área curta em alternativas”, mas acredita que pode e deve explorar este caminho.

Aos 45 anos, Ricardo anda há ano e meio à procura de trabalho, o que já lhe trouxe alguns amargos de boca. Agora não poupa críticas ao sistema, diz que “os centros de emprego não comunicam, têm uma base de dados com potenciais “skils” (competências) mas não fazem nada, são uns meros anotadores de desempregados”. Já só tem subsídio de desemprego por mais seis meses o que, confessa, o deixa assustado, sem estes 534 euros mensais fica sem qualquer apoio. Neste momento já admite desistir da fotografia, desde que consiga um emprego, mesmo que fique a ganhar menos do que recebe com o subsídio.

História diferente tem Teresa, desempregada há quatro anos, que nunca soube o que é receber subsídio. Como antiga empresária, nunca teve direito. Diz com amargura que “os empresários criam os postos de trabalho mas, se a coisa corre mal, porque a pagar tanto imposto não há micro empresa que aguente, a porta fecha-se e os colaboradores têm direito aos apoios e os gerentes não.”

Depois de fechar a empresa de actividades lúdicas e pedagógicas, hoje Teresa dá aulas de música, uma hora por dia no primeiro ciclo. Continua a estudar e à procura de outras oportunidades, sobretudo na internet, mas só agora está a aprender a escrever um currículo.