25.5.20

Vintage for a Cause. Ponto a ponto, este clube de costura (à distância) quer acabar com a solidão

Mauro Gonçalves, in o Observador

Nasceu em 2012 e ao fim de cinco anos as sessões de costura já eram a principal arma contra o envelhecimento inativo feminino. Hoje, a Vintage for a Cause chega a 50 mulheres, mesmo em confinamento.

A ideia é simples: desafiar as senhoras mais velhas a modificar peças de roupa que têm em casa, como forma de ocupar o tempo, cada vez mais livre, sobretudo em tempo de pandemia. Se a criatividade falhar, há um guia de sugestões que vai desbloquear os génios mais enferrujados. O objetivo não é o mero recreio, mas sim promover o envelhecimento ativo entre as mulheres acima dos 50 anos e para isso, não é preciso tirar ninguém de casa.
“Estamos a falar de um grupo de risco”, assinala Helena Antónia, criadora da Vintage for a Cause. “Preparámos guiões com ideias para transformar peças. Já a antever que algumas podem não saber costurar ou não ter máquina, adjudicámos uma tutora que faz um acompanhamento por telefone. O objetivo não é termos roupas elaboradas”, explica ainda.

Mas para entender o projeto é preciso recuar a 2012, ano em que tudo nasceu das mãos desta advogada, especializada em empreendedorismo social. O que inicialmente surgiu como uma marca de roupa, que entretanto já permitiu a poupança de três milhões de litros de água e de sete toneladas de CO2 através da transformação de peças e do reaproveitamento têxtil, acabou por seguir um caminho diferente. Paralelamente, a missão era também ocupar quem, pela idade, se arriscava a ficar votado ao ócio e ao isolamento.

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Um ano depois, a Vintage for a Cause já comercializava as suas peças e dividia as receitas pelas mãos habilidosas que as confecionavam. “Mas essa não estava a ser a principal motivação delas”, revela Helena ao Observador. O projeto bifurcou-se. “Foi aí que criámos os workshops como atividade ocupacional e autonomizámos a produção. Percebemos que aquilo era importante, não pelo dinheiro, mas para a criação de novas rotinas, aumento da autoestima e para fazer amigas. E este projeto nasce precisamente da avaliação do impacto que fomos fazendo”, continua.

Mais confiantes, com maior facilidade em comunicar e com uma taxa de assiduidade praticamente nos 100% — os workshops de costura tornaram-se indispensáveis à vida de dezenas de senhoras na zona do Porto. Em 2017, a fasquia subiu com o projeto From Granny to Trendy. Agora, eram desafiadas a transformar a suas próprias peças para depois as apresentarem num desfile final.

No último ano, o o alcance aumentou com a oportunidade de recriar os encontros noutros locais, nomeadamente em Gondomar, Guimarães e Esposende. Enquanto projeto promotor dos reaproveitamento têxtil, conseguiu o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. O futuro prometia, mas o vírus ditou a suspensão de todas as atividades.

“Estava tudo a correr bem até termos de suspender as atividades. Mas continuámos a incentivá-las a continuar a costurar. A maioria não tinha grande interesse na internet. Tivemos de pensar em ferramentas de comunicação que fossem confortáveis para este público e adaptámos os workshops para um formato analógico”, explica a mentora. o From Granny to Trendy ganhou a forma de guião escrito e ilustrado “de forma a poder ser dinamizado em casa individualmente ou em família” enquanto o isolamento for necessário, segundo explica Helena. Via telefone, as tutoras são as assíduas participantes dos workshops presenciais. Para complementar o leque de opções, há também vídeos no YouTube.
Acompanhados por alguns materiais de costura, a primeira leva de manuais inclui 100 exemplares. Desde o início do confinamento, o projeto já chegou a 50 mulheres, nos concelhos onde os workshops já se realizavam. Autarquias e instituições são sempre um intermediário, já que o ingresso neste clube de costura à distância é reservado a pessoas já sinalizadas.

No total, a Vintage for a Cause colabora, atualmente, com 15 organizações. A opção não compreende apenas a sustentabilidade financeira da iniciativa, embora esta não dê lucro, segundo defende Helena Antónia, mas também a proximidade geográfica, já que o objetivo é, no futuro, envolver estas mulheres nas atividades presenciais. No fundo, todos esperam que o regresso à rua (e à passerelle) esteja para breve.