27.5.20

Covid-19: empresas preparam desconfinamento gradual e sem pressas

Ana Brito, in Público on-line

Regras novas de circulação nos edifícios e horários rotativos e desfasados são algumas das mudanças que esperam muitos trabalhadores no regresso a uma normalidade diferente.

Com o início da próxima fase de desconfinamento, a 1 de Junho, o teletrabalho, que tem sido a regra nos casos em que a actividade da empresa e a função do trabalhador o permitem, dará lugar a modalidades de “teletrabalho parcial”, como lhes chamou o primeiro-ministro, António Costa.

Sabendo-se que todos os planos estão, à partida, condicionados pela evolução da pandemia, as grandes empresas preparam-se para um regresso à normalidade que voltará a pôr à prova a capacidade de adaptação de pessoas e organizações, mas nem todas têm datas fechadas para o regresso.

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Um retorno feito de “forma progressiva, faseada e rotativa”, respeitando as taxas de ocupação exigidas, é o que espera os trabalhadores da Galp, que começarão a voltar aos locais de trabalho em Junho, em dia ainda a definir.

“Cerca de metade dos colaboradores” continuou “em instalações industriais, postos de abastecimento ou escritórios” para assegurar “a continuidade da operação de infra-estruturas críticas para o país”, lembrou fonte oficial da empresa.

Os primeiros a regressar dos dois mil que foram para teletrabalho serão aqueles que não têm problemas de saúde, nem “membros do agregado familiar pertencentes a grupos de risco”. Também volta quem se desloca “em viatura própria ou da empresa” e que não tem “crianças com idades inferiores a 12 anos em casa”. Os últimos serão os pertencentes a “grupos de risco”.

As entradas e saídas nos edifícios serão “faseadas para evitar a concentração” e “observar os procedimentos de controlo aplicáveis”; refeitórios e elevadores terão lotações mais reduzidas e serão distribuídas máscaras, luvas e toalhetes com solução alcoólica.

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Também “será exigido o cumprimento de um código de conduta”, que inclui as regras sobre etiqueta respiratória e distanciamento social, e que abarca o trabalho em equipa e a realização de reuniões e de viagens, nota a empresa.

Na EDP, o regresso de algumas actividades presenciais já arrancou no início da semana passada – antes disso, a empresa tinha 79% dos colaboradores, cerca de quatro mil pessoas, em regime de teletrabalho.
Na primeira fase regressarão entre 20% e 50% dos trabalhadores para “reforçar as equipas dedicadas a serviços essenciais” ou cuja presença é necessária “para a continuidade das operações industriais e comerciais nas diferentes áreas de negócio”.

Também se definiram grupos. Primeiro voltam aqueles “sem restrições sociais ou de saúde e cujo regresso às instalações não cause constrangimentos relevantes para a sua vida pessoal e familiar”.

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Os colaboradores com menores a seu cargo ou que sejam cuidadores e que não tenham “alternativa para garantir os cuidados ao seu agregado familiar” regressarão depois. Os últimos serão os de grupos de risco “ou que tenham problemas específicos de saúde, mesmo que não directamente ligados à covid-19”.

Controlo da temperatura como prevenção
O controlo da temperatura é uma das medidas do plano de regresso, juntamente com a distribuição de kits de protecção individual à chegada. A empresa vai “disponibilizar planos para testes de detecção e imunidade à covid-19, sem custos, para todos os colaboradores”.
Os postos de trabalho estarão a uma distância mínima “de dois metros, a 360º” e “a limpeza e desinfecção dos edifícios vai ser mais frequente”. Os acessos e a circulação serão redefinidos e as reuniões passarão a “ter um número limitado de participantes” – muitas deverão manter-se em modo remoto.

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A EDP garante que “os seus colaboradores estão hoje completamente preparados para funcionar nesse regime de adaptação e flexibilidade” que é o teletrabalho e que o modelo “continuará “a ser incentivado”.
Na REN, as instalações também foram “adaptadas às circunstâncias, com reforço das medidas de higienização e redistribuição dos espaços” para maior distanciamento entre as pessoas. Alguns trabalhadores começaram já a regressar aos escritórios “de forma faseada e com horários desencontrados”.

A REN passará a “promover, sempre que possível, uma maior distribuição dos colaboradores ao longo das horas do dia, desconcentrando as horas de chegada aos locais de trabalho”, onde será feito o controlo de temperatura.

Voltar de forma faseada
Aos serviços centrais do Santander deverão regressar esta semana cerca de 300 trabalhadores. “Os balcões mantiveram-se abertos com cerca de 3000 trabalhadores em regime presencial ou em rotação”, mas o retorno aos edifícios centrais “será realizado de forma faseada, em função da evolução da pandemia”, a partir do dia 25 de Maio, explicou fonte oficial do banco.
No início de Julho, já deverão ser perto de 600 trabalhadores. Para o regresso estabeleceram-se “protocolos estritos de utilização das instalações seguindo as orientações da Direcção-Geral da Saúde e enquadramento internacional do grupo Santander”.

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Os espaços estão a ser readaptados para garantir o afastamento entre postos de trabalho, haverá obrigatoriedade de utilização de equipamento de protecção social, circuitos de circulação definidos e limitação de capacidade dos elevadores.
O Santander ainda está “a estudar as medidas de controlo à entrada dos edifícios”, mas salienta que “a protecção começa” à saída de casa e nos trajectos de e para os escritórios.

O confinamento permitiu testar novos métodos de trabalho e ferramentas informáticas que “o banco já colocava à disposição” das pessoas e agora o Santander pretende “ouvir com cuidado a opinião” dos funcionários “e, a seu tempo, implementar novos hábitos de trabalho”. Algumas situações já estão identificadas: “Por exemplo, verifica-se que em reunião internas as pessoas não precisam de sair do seu local de trabalho”.

Na Caixa Geral de Depósitos (CGD), durante o estado de emergência, 99% das 551 agências e gabinetes de empresas “estiveram a trabalhar”, passando para 100% no final de Abril. Com cerca de 55% dos seus colaboradores em teletrabalho, o banco público atribuiu “mais de quatro mil acessos remotos” (20% na rede comercial e 80% nos serviços centrais).

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A CGD ainda “está a decidir a forma como vai ser realizado o regresso destes colaboradores”, mas “será sempre” faseado e atendendo a aspectos como a reconfiguração de “layouts do espaço de trabalho, o nível de produtividade de cada colaborador em teletrabalho, a necessidade de dispor de equipas no edifício-sede e manter outras em teletrabalho, por uma questão de protecção (equipas-espelho)”.
Regresso por fases para avaliação

Na sede da CGD, em Lisboa, onde trabalham cerca de quatro mil pessoas, vão manter-se as medidas criadas para responder à covid-19 e “o edifício continuará a estar dividido em quatro áreas de contenção [de circulação]”.
A “redução do teletrabalho a partir de Junho” acontecerá “de forma faseada, permitindo avaliar resultados”, em articulação com as recomendações da DGS.

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Lembrando que “não reduziu” a actividade e que tem “75% dos colaboradores em teletrabalho, incluindo os serviços centrais e as redes comerciais, sem problemas”, o BPI refere apenas que o “regresso será faseado, com todas as precauções, sem urgência, sendo prematuro discriminar medidas”.

No BCP, onde 53% dos trabalhadores estiveram em teletrabalho, também está a ser preparado “o regresso faseado” e “em condições de segurança” aos locais de trabalho, adiantou o banco na semana passada, quando apresentou as contas trimestrais.

Na Vodafone, que chegou a ter 98% das pessoas em teletrabalho, o regresso ao escritório “está previsto começar a acontecer, de forma faseada, na segunda quinzena de Junho”, mas os detalhes “ainda não estão fechados”.
A Nos, que colocou 95% dos trabalhadores em teletrabalho antes do estado de emergência diz que “planeou o regresso” aos escritórios “com base num modelo rotativo e muito gradual”.

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Durante o confinamento, a operadora realizou um inquérito interno para aferir “o modelo preferencial de trabalho” dos trabalhadores “para uma fase de transição”. “Vamos conseguir respeitar a preferência da grande maioria das nossas pessoas, continuando a assegurar o pleno funcionamento” dos serviços, disse fonte oficial da empresa.

Na calha estão várias “acções de prevenção e segurança”, como “horários alargados” para os períodos de entrada e saídas, acessos diferenciados para entradas e saídas e o controlo de temperatura à chegada.

Circulação nos edifícios alterada
Outras medidas incluem a introdução de sinalética de orientação (nas entradas, corredores e escadas, por exemplo) e de prevenção (lavagem de mãos, etiqueta respiratória e cuidados a ter em pontos de contacto, como os botões de elevador).

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As regras de utilização de copas e cantinas foram revistas, o distanciamento social passará a ser obrigatório nos corredores, elevadores, casas de banho e salas de reuniões, e a máscara será “obrigatória em zonas comuns e espaços de circulação”.

Além do reforço de limpeza e ventilação do ar condicionado, vai ser introduzida uma “política de clean desk [secretária limpa] e promovida a utilização de ferramentas de comunicação virtual para as reuniões.
“Há naturalmente uma série de práticas de trabalho remoto que, pelo contexto, foram aceleradas e que se revelaram bastante positivas”, refere a Nos. Como o regresso ao escritório será gradual, muitas “serão ainda para manter”.

Na Altice, onde cerca de dez mil pessoas passaram para teletrabalho em três semanas (incluindo trabalhadores em outsourcing), cerca de 500 regressaram já às instalações desde 21 de Maio, como revelou recentemente o administrador com o pelouro dos recursos humanos, João Zúquete, em conferência de imprensa.

“Há uma visão idílica de que as empresas puseram toda a gente em casa”, mas no caso da Altice houve cerca de mil técnicos que nunca pararam, frisou.
A empresa pretende ter um total de 1500 pessoas nos edifícios a 1 de Junho e entre 2000 e 2500 pessoas a 15 de Junho. O objectivo passa por ter de regresso às instalações “quase metade das pessoas ainda antes do Verão”, mas “a observar estritamente as indicações” da DGS e do Governo.
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É preciso aguardar ainda por “novas regras” que o executivo venha a introduzir para perceber como será possível ter “toda a organização [a funcionar] num regime normal em Setembro”, acrescentou.
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